Nós vicentinos, membros da Sociedade de São Vicente de Paulo, estamos acostumados a realizar visitas em casas pobres, estamos de certa forma familiarizados com a pobreza material, que na maioria das vezes é acompanhada da pobreza espiritual.
Nas visitas aos assistidos e encontros com nossos irmãos, somos convidados a reconhecermos a Deus e ficarmos mais próximos a ele, afinal o reino de Deus é o reino dos pobres e de quem cuida do pobre.
No final de semana, 27 e 28 de maio, na programação do 30° Encontro Nacional da Juventude Vicentina, nós jovens tivemos uma experiência diferente de visita. Posso afirmar que encontramos com Deus, não no Céu ou em uma forma majestosa no altar como é comum a muitos cristãos, mas sim na forma que ele mesmo pregou em seu evangelho, no irmão, em especial nos irmãos mais necessitados.
O encontro aconteceu no maior Lixão da América Latina, Lixão da Estrutura nos arredores de Brasília/DF, de onde nossos irmãos catadores, que às vezes parecem se misturar ao mar de lixo, tiram o sustento de suas famílias.
Com rostos cansados pelo trabalho e pelo sol, os mais velhos parecem já não ligar mais para o sofrimento que passam, muitos dizem não ter nem mesmo sonhos. As crianças que trabalham ali, que não são poucas, aprendem a lidar com o sofrimento e a não ter sonhos. Afinal um lugar sem brinquedos e sem brincadeira não deve ser um bom lugar para cultivar sonhos ou esperança.
A esperança é passageira, só vista em sorrisos tímidos no meio a entrega das marmitas de comida, suco e água fresca, mas logo parece ir embora como as marmitas que são consumidas ali mesmo em meio ao sol e ao lixo, ao cheiro que, imagino já devem estar acostumados. Eles retomam o trabalho, procuram algo valioso em meio ao lixo que foi desprezado, isso me faz lembrar o vicentino que através do seu trabalho deve resgatar os irmãos da pobreza material e espiritual, matando a fome e sede, de comida e amor.
Fez-me refletir que devemos cada vez mais investir em mudança de estrutura, em promoção e melhora da vida de nossas famílias. Como diria nosso principal fundador Antônio Frederico Ozanam: “Só Caridade não basta. Cura as feridas, mas não acaba com os golpes que as causam… Caridade é o Samaritano que derrama azeite nas feridas do viajante que foi atacado. O papel da Justiça é impedir os ataques”.
Faz-me pensar que toda a Sociedade de São Vicente de Paulo, vicentinos de todas as idades, de todas as regiões, não podem ficar de ‘oba-oba’ ou só no assistencialismo. Junto com toda a Família Vicentina, cada confrade e consócia deve se unir e “Contra as pobrezas, agir juntos”.
Informações: André Mariano Pereira