“Acolher bem também é evangelizar”. Lembro desta frase escrita no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Recordo, também, que no Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação de 2014, também na Casa da Mãe Aparecida, o padre italiano Antonio Spadaro – grande nome da comunicação católica –, chamou a atenção de todos para esse lema e sua importância. Mas o que é acolher? O que é evangelizar?
Milhares de pessoas passam pela Cidade do Vaticano diariamente. O turismo e a fé se misturam (impossível ser diferente quando falamos de um dos lugares mais importantes da arte universal), e cada fiel/turista traz um desejo: um encontro com Deus? passar pela Porta Santa? olhar as esculturas e pinturas renascentistas? ver o Papa Francisco e, por que não, tirar uma foto com ele?
Desde o dia 2 de setembro estou na cidade de Roma como voluntário do Ano Santo da Misericórdia através do Pontifício Conselho para Promoção da Nova Evangelização e o Centro de Acolhimento ao Peregrino. Creio que a função que tenho neste trabalho é a de dar resposta aos anseios de toda esta multidão que percorre o menor Estado do mundo, com seus poucos 0,44km². Lembrando que essa resposta pode ser em italiano, inglês (uma tentativa), francês (sempre um sufoco), português (sempre uma alegria) e mímica. Diariamente, faça chuva ou sol – este o mais frequente –, tenho contato com milhares de fiéis que fazem peregrinação à Porta Santa da Basílica de São Pedro.
Colocar a credencial com sua foto, seu nome e a palavra “voluntário” junto ao símbolo do Ano Santo no peito é ser um rosto da Igreja e, como ela, abraçar, sorrir, ser prestativo, ouvir, responder… acolher! “Obrigado por seu trabalho!” é uma frase que escuto cotidianamente e serve como um ar novo e fresco no escaldante trabalho com o calor romano. Não é questão de reconhecimento – mesmo que seja – mas de saber que seu esforço é notado.
Vivemos um ano especial com o Jubileu da Misericórdia. Papa Francisco nos diz que não tem dúvidas de que vivemos um tempo de real necessidade de misericórdia, de sermos abraçados pelo Pai Misericordioso, de irradiar este sentimento de ser amado para os irmãos, e da Igreja ser o rosto visível da misericórdia de Deus. É momento de não ter medo ou receio de reconhecer nossa fraqueza e retornar à casa, de saber que temos um Pai que nos reconhece de longe, corre e nos abraça, perdoa nossas faltas com felicidade e faz festa, coloca sandália em nossos pés e nos veste com a melhor roupa, que é o seu amor.
Neste tempo jubilar, acolher ganha um sentimento ainda mais importante. Fico pensando em quantos irmãos estão longe de Deus e, por algum motivo, vêm até a Porta Santa. Acolher bem é – no meu pensar – contribuir para que a pessoa não passe por uma porta apenas e entre na Basílica de São Pedro e se depare com grandes obras de arte, como a escultura Pietà de Michelangelo, mas seja uma ovelha que encontra água fresca, sombra e amor entrando no coração de Jesus, rosto da misericórdia de Deus-Pai; seja aquela ovelha que se perdeu mas foi encontrada, porque o Bom Pastor deixa as outras 99 ovelhas para procurar aquela perdida. Jesus nunca se cansa de nos procurar. Podemos nos afastar de Deus, mas Ele nunca se afasta de nós.
Escuto muitas perguntas todos os dias. Por onde se vai para a cúpula? Papa Francisco estará aqui hoje? Onde fica a entrada do Museu? É por aqui que se vai para as tumbas dos papas? A pergunta que mais me agrada e alegra é: Qual o caminho para passar pela Porta Santa?
Um caminho de oração foi pensado para os peregrinos. Ele tem início no famoso Castel Sant’Angelo, às margens do rio Tevere, percorre a Via della Conciliazione e a Igreja de Santa Maria in Traspontina, passa pela Praça São Pedro, entra na Basílica e termina próximo ao altar e à tumba de São Pedro.
O meu trabalho – em síntese – é contribuir para que esta peregrinação seja feita da forma mais organizada, intimista e de oração possível, apesar de estar este caminho no meio de um dos lugares mais visitados do mundo e de Roma. Com uma cruz, os grupos partem em oração, reflexão, cantando, em silêncio… O trajeto dura, em média, 25 minutos, mas irradia uma transformação que vislumbra a vida eterna.
Adilson Jorge, jornalista e agente da Pastoral da Comunicação na Paróquia São Sebastião/Amparo
Texto integrante do Informativo bimestral O AMPARO, da Diocese de Amparo
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