QUEM AMA, OBEDECE!

christ-898330_960_720Entre os judeus – e Jesus era um deles, é bom lembrar… – o verbo “guardar” tem ressonâncias muito especiais. No vocabulário técnico da tradição rabínica, “receber”, “guardar” e “transmitir” eram os verbos reveladores do homem justo e fiel. O grande dom de Deus ao povo escolhido era a Torah, a lei intermediada por Moisés no Sinai. O israelita fiel se orientava por ela, recebendo a Lei, guardando-a e transmitindo-a com integridade, sem lhe alterar sequer um iode, a menor de todas as letras.

Trazendo tudo isso para o nosso tempo, diríamos que a virtude em questão é a obediência. Esta palavra, de origem latina, significa uma ob-audiência, ou seja, é a atitude de quem fica de frente para quem está falando, para bem ouvir e obedecer prontamente. Assim como o filho que ouve as ordens e conselhos do pai.

Neste Evangelho, Jesus associa a obediência ao amor. Começa por dizer que o Pai amará quem acolhe fielmente a sua Palavra, manifestada por Jesus. Isto é, a obediência suscita o amor. Mas o Mestre acrescenta: “Quem não me ama não guarda as minhas palavras”, o que deixa claro que é por amor que alguém se vê motivado a obedecer. O filho obedece ao Pai porque o ama. O tão esquecido “temor de Deus” – dom do Espírito Santo – não significa outra coisa a não ser isto: “A última coisa que desejo neste mundo é entristecer meu Pai, que tanto me ama. Minha obediência é minha resposta de amor a quem me ama assim!”

Vivemos um tempo de rebeldia. Poucos desejam obedecer. Mesmo nos Institutos de vida consagrada, a obediência foi a tal ponto atenuada e reduzida, em nome da responsabilidade e da liberdade de consciência, que alguns se arrepiam quando falamos na necessidade de uma obediência incondicional e amorosa à Igreja.

– “À Igreja?!” – estranhou uma freira, fazendo careta. “Nós devemos obedecer é a Deus!” Como se fosse possível obedecer a Deus, a quem não vemos, sem obedecer à Igreja, que fala em nome de Deus, por determinação dele mesmo (“Quem vos ouve, a mim ouve”…). A primeira leitura mostra os apóstolos exercendo essa função de discernir a voz de Deus e transmiti-la. E na segunda, vemos que a nova Jerusalém, iluminada pela glória de Deus, repousa sobre os alicerces dos apóstolos…

A marca registrada dos santos não foi o milagre, os dons excepcionais ou as experiências místicas. Tudo isso aconteceu, mas veio como consequência de uma vida inteiramente submetida à vontade de Deus manifestada pela Igreja…

Antonio Carlos Santini

Texto integrante do folheto ‘DEUS CONOSCO | A PALAVRA ILUMINA – DIOCESE DE AMPARO’ (01.05.16 – 6º Domingo da Páscoa)

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