PÁSCOA: da desfiguração à transfiguração
Com a graça de nosso Bom Deus, chegamos à bela festa da Páscoa! Como o Papa Francisco escreveu na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho, de 24/11/2013), não tem sentido uma Quaresma sem Páscoa.
Naturalmente, não se trata de passarmos de um dia ao outro, de uma semana à outra, esperando chegar o grande domingo, o domingo pascal, aguardando, simplesmente, o tempo do relógio. Não é o calendário que nos faz celebrar a Páscoa!
Essa jubilosa festa, a maior de todas, sem dúvida, em nossa “folhinha litúrgica”, não se resume a um dia, nem apenas a uma semana, apesar de que, no entendimento de nossa Igreja, a primeira semana, em especial, é como se todos os dias fossem como o domingo pascal, de fato.
Se temos cerca de quarenta dias, ao longo da Quaresma, para culminarmos no solene tríduo dos últimos dias da Semana Santa, e se, atingindo o cume do domingo, avançamos mais sete semanas, chamadas de Tempo Pascal, não podemos deixar no passado do tempo quaresmal o sentido de todas as orações e práticas de maior esforço que foram empreendidas com o intuito de qualificar a vida espiritual.
A atualização da Páscoa vai se revelando em todo momento, como bem sabemos, quando a morte, em qualquer um de seus numerosos sinais ou incontáveis manifestações, está sendo vencida, ou seja, quando está acontecendo, de alguma maneira, ainda que seja apenas do conhecimento de Deus, um combate que resulta sempre numa derrota do mal e numa vitória do bem, como não poderia ser diferente.
Por excelência, o Cordeiro, levado ao matadouro, no perfeito sacrifício da Cruz, com a maior dor e o maior amor do mundo, é, absolutamente, o “Alfa e o Ômega”, o “Princípio e o Fim”, o – e não, simplesmente, um – Vencedor, Senhor da História, confirmando tudo o que disse a seu respeito, ao longo de seus ensinamentos: “eu sou a Porta”, “eu sou a Luz”, “eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” etc.
Essas afirmações não podem ser meras frases de efeito, num texto bem escrito ou numa fala pronunciada com propriedade, pois, ainda que isso fosse motivo de admiração e inteligência, como capacidade de escrita ou oratória, soaria apenas como repetição.
Na verdade, temos que repetir, sim, porém indo além das palavras que, faladas ou escritas, têm uma grande apreciação. Inquestionavelmente, a beleza e grandiosidade da Páscoa – o sublime acontecimento da ressurreição – expressam-se nas pequeninas (por isso, infinitas) e significativas (porque transformadoras) passagens que, numa realidade de morte, pequena ou grande, desencadeiam um novo nascimento, um ressurgimento, e, consequentemente, uma vida nova a ser cuidada, no decorrer de todo o seu desenvolvimento.
Necessitamos de Páscoa! De “muitas” páscoas e “muita” páscoa, ou seja, com intensidade, autenticidade, sinceridade, profundidade, gratuidade, humildade e simplicidade. Para que todas essas características sejam contempladas, é preciso aquela páscoa que emite relevantes, mesmo que pequenos, sinais de ressurreição, na lógica do cuidado, como constantemente tem enfatizado o Papa Francisco.
Sem essa lógica, que é, eminentemente, a lógica de Deus, não há Páscoa. Mas esse cuidado deve ser compreendido e vivenciado de forma abrangente: comigo, com os outros, isto é, o meu próximo, especialmente o mais vulnerável, com a natureza. É o que nos propôs – e continue valendo, indeterminadamente! – a reflexão da Campanha da Fraternidade. Não há Páscoa com simples sentimentalismo, muito menos egoísmo e individualismo, sem compaixão, ternura, partilha concreta de amor.
Não é à toa que o sinal forte do cristão é a cruz, pois só se pode falar de ressurreição se acontece uma expressiva transformação que proporciona, independentemente do tamanho de sua repercussão, a mudança / passagem da desfiguração do Crucificado para a transfiguração do Ressuscitado.
Querida irmã e querido irmão, numa constante peregrinação de esperança, vivencie uma feliz Páscoa, provocando diversificados desdobramentos que representarão, fortemente, a pedra rolada com o túmulo vazio e oferecerão rica e gratificante experiência do Senhor em nosso meio!
Dom Luiz Gonzaga Fechio.