Artigos de Liturgia, n. 16; Março de 2017
Diácono Rafael Spagiari Giron
Assessor da Pastoral Litúrgica Diocesana
Queridos irmãos e irmãs, filhos amados de Deus!
Nos próximos artigos começaremos a estudar um pouco dos Sacramentos da Igreja na sua dimensão litúrgica. Hoje sabemos que a Igreja fixou os sacramentos como sendo em número de sete. No entanto, não foi sempre assim. Por isso, é preciso compreender essa realidade para melhor entender o que são os sacramentos e como eles atuam na vida das pessoas.
Deus Criador e Salvador projetou o mundo e a humanidade tendo em vista uma realização plena. O Apóstolo Paulo fala desse projeto de Deus utilizando a palavra “mysterion”, cuja tradução para o latim foi dada por “sacramentum”. Ou seja, “sacramentum” é toda obra que Deus faz para salvar a humanidade. Nesta obra de salvação se encontram os “sacramentos cristãos”, realidades vindas por meio de Cristo e organizadas pela Igreja.
Os primeiros cristãos utilizavam a palavra Sacramentum para designar muitas realidades: Cristo, a Igreja, a Escritura, a Páscoa, o altar, a consagração das virgens, os tempos litúrgicos, a vida cristã, a própria realidade criada, entre outros. Tudo era visualizado como “sacramento de Deus”, ou seja, “sinais da manifestação de Deus”. Por isso, podemos tomar a explicação que Santo Agostinho faz para o termo “sacramentum”; diz ele que: SACRAMENTO É A MANIFESTAÇÃO VISÍVEL DE UM MISTÉRIO OU DOM INVISÍVEL DE DEUS.
Diante dessa afirmação podemos nos perguntar: mas por que sete sacramentos? Na antiga tradição da Igreja não está fixado o número de sacramentos. Há listas variadas, às vezes bem extensas. O número sete (que evoca a totalidade) foi fixado na teologia do século XII, sendo reafirmado pelo Magistério no século XIII. A partir do século XIII, com os escritos de Santo Tomás de Aquino, Alexandre Hales e São Boaventura, começa uma fundamentação mais teológica dos sacramentos, o que levará à formulação dos sete. A partir do Concílio de Trento (ano 1545-1563) a Igreja estabelece-os oficialmente como sendo em número de sete: batismo, eucaristia, crisma, confissão, matrimônio, ordem e unção dos enfermos.
O número sete representa a soma do três com o quatro. O número quatro é o símbolo do cosmos (terra, água, fogo, ar); o número três é símbolo da Santíssima Trindade. A soma de ambos significa a união do humano com o divino.
Em Cristo aparecem assinaladas as diversas situações sacramentais que ele consagra ao longo de sua vida: nascimento, começo da vida pública, última ceia, encontro com os enfermos. Hoje, esses sinais são as celebrações que a Igreja oferece aos cristãos nos momentos decisivos da vida: nascimento, encontro fraterno, matrimônio, enfermidade, compromisso especial com a missão ou ministério. Por isso, podemos afirmar que os sete sacramentos são lugares ou encontros privilegiados de Deus-homem-Igreja por um sinal visível a nós, que serve de canal para transmitir a graça divina.
Esses sinais são realizados a partir de dois pontos centrais: a matéria e a fórmula. Para que os sete sacramentos sejam válidos eles possuem, necessariamente, esses dois princípios: matéria e fórmula. A Matéria é aquilo que está sensível aos nossos olhos (são as coisas criadas por Deus das quais o homem se utiliza): água, óleo, pão, vinho etc. Já a fórmula é a constituição das palavras próprias do rito da Igreja que garantem a unidade de fé. No batismo, por exemplo, a matéria essencial é a água e a fórmula é “N. eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
O Concílio Vaticano II chama-nos a atenção para que usemos a expressão “celebrar um sacramento”, ao invés de “administrar o sacramento”. Isso porque nos ajuda a compreender que o sacramento faz parte da vida da pessoa que o celebra. Vale recordar que, para que o sacramento atue, de fato, na vida da pessoa, aquele que o celebra deve estar disposto a receber a Graça de Deus. Isso porque a relação liturgia-sacramentos só é efetivamente vivida se a fé professada “pela boca” está em sintonia com a fé professada “no coração”.
Nos próximos artigos começaremos a estudar cada um dos sete sacramentos e veremos a dimensão litúrgico-celebrativa de cada um deles. Por hora, observe as celebrações sacramentais em sua comunidade e comece a perceber cada elemento, seja de aspecto físico, ou ainda, oracional presente no rito. Boa experiência de fé!
Para ler o artigo n. 15 clique aqui: ESPAÇO LITÚRGICO – Parte 3