A nossa civilização ocidental perdeu quase que de modo total a consciência da realeza de Cristo. Dizem, cheios de orgulho, os sábios da sabedoria do mundo: “O homem é rei!” Gritam: “Não queremos que esse Jesus reine sobre nós! Não queremos que nos diga o que fazer, como viver; não aceitamos limites do certo e do errado, do bem e do mal, do moral e do imoral… a não ser os nossos próprios limites. E, para nós, não há limites!” Eis o pecado original, a arrogância fundamental da humanidade atual. Nunca fomos tão prepotentes quanto agora; nunca tão iludidos e enganados como atualmente!
E, no entanto, Cristo é Rei, o único Rei verdadeiro, cujo Reino jamais passará. Mas não é um rei mundano, estribado na vã demonstração de poder, de glória, de imposição. Não! Ele é o Rei-Pastor que se fez Rei-Cordeiro manso e humilde imolado por nós. A grandeza e o poder do Senhor neste mundo não se manifestam na grandeza, mas nas coisas pequenas, na fragilidade do amor, daquele amor que na cruz apareceu como capaz de entregar a vida pelos irmãos. Gostaríamos de um Cristo-Rei na medida das nossas vãs grandezas… Gostaríamos de uma Igreja forte, aplaudida, elogiada, reverenciada. Mas, não! A Igreja, continuadora na história do mistério salvífico de Cristo, tem de participar do escândalo do seu Senhor, da pobreza do seu Senhor. Faz parte do mistério do Reino a pobreza de Cristo, a mansidão de Cristo, a derrota de Cristo na cruz, o silêncio de Cristo, a morte de Cristo. E tudo isso tem que estar presente também na vida da Igreja e na nossa vida!
Celebremos hoje a Realeza de Cristo, dispondo-nos a participar da sua cruz. Na Igreja, no Reino de Deus, reinar é servir. Sirvamos, com Cristo, como Cristo e por amor de Cristo! O critério para participar do Reinado do Senhor Jesus é tê-lo servido nos irmãos: no pobre, no despido, no doente, no prisioneiro, no fraco. O Reino de Cristo manifesta-se nas coisas pequenas, nas pequenas sementes, nos pequenos gestos, no amor dado e recebido com pureza cada dia.
Na verdade, segundo os Santos Padres da Igreja, o Reino de Cristo, o Reino que ele entregará ao Pai, somos nós; nós, que fizemos como ele fez, lavando os pés do mundo e servindo ao mundo a única coisa que realmente compensa: o amor de Cristo, a verdade de Cristo, o Evangelho de Cristo, o exemplo de Cristo, a salvação de Cristo, a vida de Cristo… para que o mundo participe eternamente do Reino de Cristo!
D. Henrique Soares da Costa
Texto integrante do folheto ‘DEUS CONOSCO | A PALAVRA ILUMINA – DIOCESE DE AMPARO’ (26.11.17 – Cristo Rei)