O ÚLTIMO LUGAR

1512901_ArticoloOs banquetes na Palestina eram servidos em mesas em forma de “U”. O anfitrião e seus convidados mais nobres ficavam na curva do “U”, e, lógico, eram os primeiros a ser servidos. Nas pontas da mesa ficavam os menos cotados…

Mas Jesus nos diz que, para ir ao céu (também comparado a um banquete), é preciso ocupar o último lugar. Após a morte os papéis se invertem, como se vê na parábola de Lázaro e do rico (Lc 16, 25). Os fracos se tornam fortes, os pobres ficam ricos, os humilhados ocupam os primeiros lugares. Quem foi privado das regalias deste mundo acabará compensado no outro. “Os últimos serão os primeiros” (Mt 20, 16). “Quem se humilha será exaltado” (Lc 14,11).

E o Mestre tem o direito de falar assim, pois foi o primeiro a realizar o que pregava. No reino de Deus, o último lugar já está ocupado, pois Jesus tomou posse dele. Sendo Deus, fez-se homem como nós. Sendo homem, fez-se servo, lavando os pés dos apóstolos. Desceu ainda mais e se fez a pior das escórias, morrendo na cruz (suplício que, de tão indigno, não podia ser aplicado a um cidadão romano). Sem se deter, Cristo desce ainda mais: ao túmulo. Prossegue seu movimento para baixo e “desce à mansão dos mortos”. E, como se fosse pouco, desce também sobre o altar, todos os dias, sob a aparência de pão: isto é, matéria, abaixo da pessoa humana…

Esta é a kênosis, o despojamento voluntário que o Servo Sofredor abraçou para nos salvar. Nada foi baixo demais, humilde demais para ele. Por isso mesmo, deve ter sofrido ao ver os discípulos discutindo quem seria o maior…

Interessante que, apesar disso, Jesus não suprime as hierarquias do mundo, e a própria Igreja tem sua hierarquia. Por quê?

É que a autoridade nos força a obedecer… E a obediência é a melhor forma de despertar em nós a humildade, único antídoto contra o orgulho e a vaidade. O orgulho é o pecado dos eleitos, dos bons, que facilmente se julgam melhores que os outros, como os fariseus a quem Jesus dirigiu sua parábola. Eles eram os religiosos de seu tempo, os doutores da Lei, mas tinham esquecido que nada do que temos e somos é mérito nosso.

Foi exatamente por isso que Jesus colocou a autoridade do Papa à frente da Igreja. Para Deus, é mais importante a nossa capacidade de submissão e obediência do que as razões, por melhores que sejam, que nos tentam à rebeldia. Não são as nossas razões que nos salvam, mas a nossa obediência e humildade. Só assim seremos um dia exaltados por Deus.

Antonio Carlos Santini

Texto integrante do folheto ‘DEUS CONOSCO | A PALAVRA ILUMINA – DIOCESE DE AMPARO’ (28.08.16 – 22º Domingo Comum)

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