O NATAL RESSOA EM MEU MODO DE “SER” FAMÍLIA?

Pela bondade de nosso Deus, aproximamo-nos da data do Natal. Como deveríamos chegar a ele: apenas como mais um, na contagem dos anos, ou como uma nova oportunidade que estamos recebendo para algo novo em nossa vida?

E esse “novo” passa por onde, por quais ambientes?

Se quisermos acreditar que o primeiro Natal – ou, ao menos, aquele que nos dá o motivo principal de celebrarmos essa festa – aconteceu entre família, naturalmente concluiremos que só podemos festejar verdadeiramente com sentido de Natal se no nosso coração houver lugar para o outro, a outra, independentemente de quem seja, começando de quem é da nossa família.

O fato de Jesus ser Filho de Deus não significa que ele tenha nascido de uma hora para outra. Como, para Deus nada é impossível, Ele poderia ter se tornado humano em Jesus de outras maneiras, sem que precisasse de Maria e José. Mas Ele os quis.

Precisamos nos questionar. Tem sentido para mim, ainda, associar em meu coração o Natal com a minha família? É uma associação apenas para um jantar e um almoço mais festivos, socialmente falando? Numa sociedade onde o valor das pessoas está cada vez mais reduzido à “utilidade” delas, ou, em outras palavras, às suas características físicas e ao seu “valor econômico”, que significado tem, por exemplo, uma celebração de Natal quando há descarte de pessoas idosas ou com deficiência, começando, muitas vezes, no próprio lugar ou na própria família em que estou?

O Natal mais importante do mundo aconteceu no seio de uma família que, sem magia e fantasia, experimentou, com toda a criação, seja da terra seja do céu, a maior alegria do mundo, na maior simplicidade do mundo.

Querida irmã e querido irmão, o que o Natal diz, de fato, ao seu coração, primeiramente como membro de uma família, e, depois, nos mais diversos ambientes que fazem parte de seu cotidiano?

Se Natal é nascimento – compreendendo que, nesta palavra, está tudo o que de mais sentido de vida um ser humano e a própria criação podem ter – é importante e necessário nos perguntarmos: que “tipo” de gestação estou disposto(a) a fazer e o quê, consequentemente, irei parir ao meu próximo?

Muitos dos que estão lendo estas minhas palavras conhecem uma música do Pe. Zezinho, gravada há mais de 50 anos, identificada pelo título “Estou pensando em Deus”, que, numa das estrofes, nos provoca com esta letra: “Tudo seria bem melhor, se o Natal não fosse um dia, se as mães fossem Maria e se os pais fossem José, e se a gente parecesse com Jesus de Nazaré”. Quantas vezes a ouvimos e cantamos!

Tudo o que a passagem rápida do tempo “modernizou” não deveria fazer-nos insensíveis e alheios a um olhar para trás, não para ficarmos num mero saudosismo, e, sim, levar-nos a um modo de pensar e, consequentemente, de agir, que, sabendo da necessidade de caminharmos para frente, não desprezemos a importância do nosso esforço, em tantas pequenas coisas do cotidiano, em “atualizar” a verdade da beleza profunda do Natal.

Numa de suas catequeses sobre a família, mais especificamente na quarta-feira, 17 de dezembro de 2014, na Praça de São Pedro, o Papa Francisco assim se expressou: “Deus quis nascer numa família humana que Ele mesmo formou. Forjou-a num longínquo povoado da periferia do Império Romano. Não em Roma, a capital, não numa cidade grande, mas numa periferia quase invisível, aliás, bastante mal-afamada. E Jesus permaneceu naquela periferia durante 30 anos. Ali, o importante era a família. E isso não constituía um desperdício.”

Deixemo-nos, pois, interpelar: com quais atitudes posso ser – eu mesmo(a) – o presente de Jesus, neste Natal, no seio de minha família, e para quem Ele colocar diante de mim, em meu caminho?

Dom Luiz Gonzaga Fechio

Bispo de Amparo (SP)

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