INVESTIMENTO DE NATAL PARA O ANO NOVO
Qual o sentido do Natal? Para muitas pessoas, esta parece ser uma pergunta que já se tornou repetitiva, é como que “chover no molhado”. O dia a dia, porém, demonstra que esta “chuva” não pode cessar. Será que este “molhado” é um terreno no qual a água penetrou e fecundou, verdadeiramente? Ou não teve o efeito esperado, gerador de vida, como deve acontecer?
Não é difícil, provavelmente, expressar-se a respeito do autêntico significado que o Natal traz, em si mesmo; entretanto isso não basta. Aliás, temos a impressão de que quanto mais se vai percebendo uma discrepância ou contradição entre aquilo que se deseja, em inúmeros votos verbais e escritos, e o que de fato se mostra ou se vê, menos atração se tem pela celebração desse acontecimento. Pois é por isso mesmo que jamais podemos deixar de nos questionar, pessoalmente: qual é a novidade que eu, em particular, necessito tirar desta oportunidade que Deus, em Sua infinita bondade e misericórdia, está me oferecendo novamente, por ocasião desta festa?
Não temos dúvidas de que, numa época muito propícia para pensar, falar e procurar presentes, com uma movimentação intensa do comércio, o interesse ou a busca por novidades não falta. Contudo, a preocupação com “o que a outra pessoa vai pensar” pode ser tal – quanto à maior ou menor aceitação do presente – que a circunstância pode ser motivo de “dor de cabeça”.
Nenhuma novidade material, na fértil e criativa inteligência humana, capaz de causar tanto espanto ou admiração em coisas tão fascinantes, substituirá a urgência, cada vez mais perceptível, de fazer um investimento que autenticamente tenha ressonância na vida das pessoas. E isto não diz respeito ao poder econômico, mesmo porque é justamente ele que, inquestionavelmente, apresenta-se como causador de abundantes injustiças, as quais, por sua vez, geram uma diversidade de desgraças que vamos presenciando no cotidiano.
Verdadeiro “investimento” de Natal é aquele que fazemos a partir de “dentro”, ou seja, no interior do segredo do coração e da consciência e que, num primeiro momento, apenas Deus sabe. Na verdade, não só sabe, mas conhece com perfeição! O “presente” a ser oferecido exige de nós permanente criatividade e sensibilidade, pois não se trata de algo comprado, e sim, confeccionado com inúmeros pequenos “materiais”, porém de grande riqueza, que nossa acolhida à Graça divina vai nos proporcionando.
“Tudo seria bem melhor se o Natal não fosse um dia, se as mães fossem Maria e se os pais fossem José. E se a gente parecesse com Jesus de Nazaré”. Acredito que todos nos lembramos deste canto do Pe. Zezinho, já antigo, mas que, nem por isso, perdeu sua atualidade.
Invistamos no que temos certeza de que não se decomporá na passagem do tempo e nunca será algo ultrapassado para ser substituído por outra coisa, e sim, ao contrário, acrescentado ao que foi oferecido anteriormente, para suscitar sempre uma nova experiência da lógica já comprovada, mas enormemente desafiadora e, por isso, raramente assumida, de que o maior ganho não está, primeiramente, em receber, mas em dar. Em outras palavras: o maior benefício e enriquecimento próprio encontra-se, precisamente, na prática do inverso, quer dizer, de um empobrecimento que, de incontáveis maneiras, favorecerá a dignidade de quem quer que seja.
+Dom Luiz Gonzaga Fechio
Bispo Diocesano de Amparo