Frei João Manoel Zechinatto é ordenado presbítero

Frei João Manoel Zechinatto é ordenado presbítero

“Não tenho ouro nem prata, mas trago Jesus Cristo em meu coração”

Em clima de festa, fraternidade e emoção, a igreja de São Benedito recebeu uma assembleia numerosa, fiéis, paroquianos, frades vindos de diversas fraternidades da Província Imaculada Conceição e o clero da Diocese de Amparo, para a solene Celebração Eucarística da Ordenação Presbiteral de Frei João Manoel Zechinatto, neste sábado, 6 de setembro de 2025, às 17h. A celebração, presidida por Dom Luiz Gonzaga Fechio, bispo diocesano de Amparo, foi transmitida ao vivo e reuniu presencialmente e virtualmente quem desejava testemunhar o “sim” definitivo do novo presbítero a serviço da Igreja.

A Igreja estava repleta; o coro e as equipes de liturgia animaram a assembleia e as câmeras levaram o momento para além dos bancos: TV Frei Galvão, TV Franciscanos e as redes sociais da Província levaram a cerimônia para mais longe. Na saudação inicial, já se percebeu o tom afetivo da celebração: “Que bom ter a sua presença”, disse o bispo, recordando o gesto generoso da família e a alegria de ver a comunidade ampliar-se com o novo padre.

O momento de apresentação do candidato ao bispo, feito pelo Ministro Provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, revelou o reconhecimento coletivo por uma trajetória construída ao longo de anos de formação e serviço. Em palavras claras, Frei Paulo o apresentou “como alguém que, além de muitas virtudes, sabe reconhecer as suas limitações” e por isso é digno de receber a ordem do presbiterato.

O rito e seus sinais: entrega, unção e abraço

Após a proclamação do Evangelho, teve início o Rito de Ordenação. Em gesto de entrega total, Frei João prostrou-se diante do altar enquanto a assembleia entoou a ladainha de todos os santos. Pelo gesto central da imposição das mãos do bispo e pela prece de ordenação, foi conferido a ele o Espírito para o serviço presbiteral. Em seguida, os frades o revestiram com a estola e a casula; nas palmas das mãos foi derramado o óleo perfumado do Santo Crisma, símbolo da ação do Espírito que fortalece para o ministério. O novo padre deu a sua primeira bênção à família, momento que arrancou aplausos e muitas lágrimas.

As ofertas do pão e do vinho, apresentadas por seus tios, e o abraço fraterno do clero, ao som de “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz”, concluíram o gesto simbólico da acolhida no presbiterado.

“Seja feita a tua vontade”

Tomando como ponto de partida o lema escolhido pelo novo presbítero, “Seja feita a tua vontade”, o bispo convidou todos a refletirem sobre a centralidade dessa oração na vida cristã e, em especial, na missão sacerdotal.

Seja feita a tua vontade. […] Se pararmos para pensar várias vezes no mesmo dia, e praticamente todos os dias, nossos pensamentos, nossas palavras e ações não correspondem a essa entrega”. Dom Luiz destacou que o ministério do presbítero deve ser sinal permanente dessa disponibilidade diante de Deus: “É nesta fidelidade, mesmo entre as fragilidades humanas, que o padre se torna testemunha da vontade do Pai”, acrescentou.

Comentando os gestos do rito da ordenação, Dom Luiz ressaltou o significado da unção das mãos: “O perfume da sua unção exala-se na oferta da boa nova, na pregação da verdadeira redenção e liberdade, na proclamação da graça, na consolação, na oferenda do óleo da alegria. É esse Espírito que fará você ser identificado como um homem de Deus.”

Para ele, a unção é mais do que um rito: é a confirmação visível de que o ordenando foi consagrado para levar a alegria do Evangelho. Em uma fala direta e simples, o bispo recordou o que Deus espera dos seus ministros: “O Pai não quer muitas palavras, e sim muita e muito amor. Que o seu coração trabalhe num contínuo esforço de elevar-se à vontade de Deus”. Segundo ele, a oração e o serviço pastoral devem estar livres da vaidade e da autopromoção, encontrando na e na caridade a sua autenticidade.

Dom Luiz fez memória de pessoas importantes na história vocacional de Frei João, como Frei Wenceslau Scheper, presença decisiva em seus primeiros passos de discernimento: “Recordo a presença e a referência de Frei Wenceslau na sua história”, disse. “O presbítero é sempre fruto de muitas mãos, de muitas presenças, de muitas orações”, acrescentou.

Ao concluir a homilia, o bispo indicou qual deve ser a marca do novo padre: “Será um sacerdote porque sabe amar. É no amor que se reconhece um padre: amor a Deus, amor ao povo, amor ao Evangelho. Este é o caminho que Jesus lhe pede hoje”.

Agradecimentos

A Paróquia São Benedito, em Amparo, terra natal do ordenando, expressou profunda gratidão por acolher a celebração da ordenação. A comunidade recordou a trajetória vocacional de Frei João, iniciada na capela de São Roque, e manifestou alegria por ver um filho da terra oferecer a vida ao serviço da Igreja. Agradeceram a todos que colaboraram na preparação da festa, ressaltando a importância de celebrar como família de fé.

Ainda nos agradecimentos, representantes provinciais também falaram em nome das fraternidades e da comunidade. Frei Marx Rodrigues dos Reis, em tom fraterno, presenteou simbolicamente o jovem ministro com metáforas floridas: “Depois que a rosa floresce, não é mais necessária nenhuma palavra, porque a primavera chegou”. Reconheceu nele um frade comprometido com o carisma franciscano e desejou bênçãos em sua nova missão como presbítero.

Frei Gustavo Medella, Vigário Provincial, fez menção à hospitalidade com que a paróquia recebeu a fraternidade durante a semana, lembrando mesas fartas, conversas e o desejo de permanência: “Quem recebe uma visita com a mesa farta diz: que bom que você veio! […] Eu quero que você fique”.

“Não tenho ouro nem prata, mas trago Jesus Cristo em meu coração. É Ele que eu quero oferecer com minha vida e com meu ministério

Frei João Manoel Zechinatto tomou a palavra e, visivelmente emocionado, dirigiu seu agradecimento a Deus, à Igreja e a todos os que fizeram parte de sua trajetória vocacional. “Caros irmãos e irmãs, já há alguns dias, é difícil conseguir expressar o quanto meu coração está tomado de gratidão, alegria e um sentimento de graças a Deus”, iniciou.

O novo presbítero reconheceu suas fragilidades, mas também a ação da graça em sua vida: “Em minhas limitações, falhas e pecados que são muitos, foi a graça de Deus e o seu amor que me sustentaram”.

Em seguida, agradeceu a Dom Luiz Gonzaga Fechio pela ordenação e à Província Franciscana da Imaculada Conceição: “Obrigado pelo carinho e pelo acompanhamento durante toda a minha caminhada formativa”.

Dirigindo-se à comunidade local, Frei João destacou: “Obrigado à Paróquia São Benedito e à comunidade de São Roque, onde tudo começou, por me acolherem como filho e irmão”.

Também lembrou de cada fraternidade pela qual passou, inclusive da experiência missionária: “Sou grato às fraternidades que me receberam e formaram, e à missão em Angola, onde aprendi que ser frade é ser irmão em qualquer parte do mundo”.

Num gesto especial, mencionou as religiosas que os acolheram nos dias da ordenação: “Obrigado às irmãs, pelo carinho e pela hospitalidade que muito nos alegraram”.

Frei João não deixou de recordar sua família: “Sou grato à minha mãe, aos meus tios, primos, ao meu irmão Guilherme, e lembro com amor do meu pai, que me acompanha agora da eternidade”.

E encerrou seus agradecimentos recordando de sua vocação, leia na íntegra:

No dia 12 de maio de 1943, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na cidade de Petrópolis, foi ordenado um presbítero: um jovem frade alemão que não falava ainda muito bem a língua portuguesa. Sofreu com inúmeras doenças nos seus anos de formação e quase faleceu: Frei Wenceslau Scheper. Como lema do seu ministério, escolheu um trecho da oração do Pai-Nosso: “Seja feita a tua vontade”.

Na Missa de Natal do ano 2000, há 25 anos, dia em que me tornei coroinha, ele me convidou seriamente, como convém a um alemão, para que eu fosse frade. Aquilo permaneceu fundo em mim e eu passei a responder, a quem me perguntava, que queria ser frei. A última vez que o vi, em meados de 2009, na cidade de Bragança Paulista, recebi o mesmo convite – agora, ainda mais sério. Graças a Deus por esse convite que me inquietou; graças a Deus por esse convite que mudou a minha vida e que me trouxe até este dia.

Foi o sim a esse convite que me trouxe à vida franciscana e me ajudou a escrever uma história que define quem eu sou e quem eu quero continuar a ser, sempre mais. Uma vocação não é patrimônio de uma pessoa: nós somos a soma de milhares de pessoas que vão dando um pouco de si e nos vão construindo e moldando. A história de uma pessoa é sempre a história de tantas e tantas pessoas.

É simbólico que aqui, nesta igreja, eu seja gerado presbítero, igreja onde aprendi com uma geração de valorosos franciscanos o exemplo de uma vida de minoridade, de doação plena e de que, na austeridade e na simplicidade, exalavam um carinho profundo e genuíno pelo povo de Deus. Aprendi que é servindo e amando a todos e todas que se encontra a maior riqueza e a maior nobreza de um frade menor.

Seja feita a tua vontade”, lema que repeti tantas vezes ao longo desses anos, foi me ensinando e me confirmando um Deus amoroso e misericordioso, que cuidou e velou pela minha vida. Um Deus que é bom, e bom em todo tempo. Possa eu, com coragem e valentia, ser fiel seguidor desses mistérios de anunciar ao mundo Jesus Cristo vivo e ressuscitado e o Seu Evangelho, porque eu creio cada vez mais que Ele é a única e derradeira resposta para o nosso mundo.

Não tenho ouro, não tenho prata, mas tenho Jesus Cristo – e Jesus Cristo ressuscitado. Tenho irmãos e irmãs, seguidores do mesmo Evangelho, e juntos, com o cálice da vida transbordando de alegria e de gratidão, meu brado: seja feita a tua vontade.

Para além do rito: um ministério em saída

A ordenação de Frei João é narrada não como ponto final, mas como continuidade de uma caminhada. Formado pela experiência de fraternidades diversas, por uma vivência missionária que o levou até Angola e pela vida de proximidade com as comunidades locais, o novo presbítero encara seu ministério sob o signo do serviço e da simplicidade franciscana. O lema escolhidoSeja feita a tua vontade” foi repetido como programa: não um convite à passividade, mas à abertura confiante à vontade de Deus que se faz serviço, anúncio e presença compassiva.

A festa terminou entre abraços, bênçãos e cantos. A Igreja de São Benedito permanece, assim, enriquecida por mais um filho que se entrega para consagrar a vida ao alimento do povo: a Palavra, a Eucaristia e o cuidado pastoral e sacramental.

Imediatamente após a ordenação, foram anunciadas as primeiras celebrações: Frei João presidirá sua Primeira Missa na comunidade São Roque, em Três Pontes, às 10h; outra celebração será realizada na Paróquia São Benedito, às 18h, ocasiões que prometem reunir novamente seus familiares, os fiéis, frades e comunidade amparense.

A caminhada de Frei João

Frei João Manoel nasceu em Serra Negra (SP), em 15 de dezembro de 1992, e cresceu no distrito de Três Pontes, em Amparo. Desde a infância ajudava nas atividades da comunidade de São Roque, pertencente à paróquia de São Benedito. Sua história franciscana começou formalmente em 2015, passando por fraternidades e seminários em Santa Catarina e São Paulo, vivências missionárias, inclusive em Viana, Angola, e quatro anos de teologia em Petrópolis. Fez a primeira profissão em 2018, a profissão solene em 17 de setembro de 2022 e foi ordenado diácono em 15 de dezembro de 2024. Recentemente recebeu transferência para a Fraternidade Dom Paulo Evaristo Arns, em São Paulo, onde também serve na equipe de comunicação da Província.

Créditos: Texto: Frei Augusto Luiz Gabriel/ Fotos: Frei Roger Strapazzon.

Matéria originalmente publicada pelos Franciscanos, disponível em: www.https://franciscanos.org.br/noticias/frei-joao-manoel-zechinatto-e-ordenado-presbitero.html#gsc.tab=0 . Conteúdo reproduzido com os devidos créditos.

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