DOM LUIZ: QUEM SEGUE A CRISTO, RECEBE A VERDADEIRA PAZ

Dom Luiz Gonzaga Fechio, bispo diocesano, participou da 5ª edição do “Movimento Você e a Paz”, que ocorreu em Amparo, no domingo, dia 22 de outubro. Confira abaixo a íntegra da Mensagem de Paz de nosso pastor:

 

“Prezado irmão e prezada irmã em nossa condição de filhos de um mesmo Pai, paz e bem! Minha saudação fraterna e afetuosa a cada pessoa que se faz presente, com a intenção de assumir sua preciosa colaboração na construção de um mundo melhor, de um Brasil melhor, de uma Amparo melhor! Como bem sabemos, isso não depende apenas dos governantes, afinal de contas é o povo o responsável pela eleição de cada um deles.

Saúdo, com estima, o Sr. Divaldo Pereira Franco, idealizador deste importante evento, em sua 5ª edição, aqui, para nós, bem como o Pastor José Lima, que, igualmente, nos enriquece com sua valiosa participação.

Agradeço a delicada consideração da Dª Ana Maria Veronezzi Beira, no convite que me foi feito para uma singela cooperação nesta iniciativa.

Eu disse que estamos aqui para a construção de uma realidade melhor ao nosso redor, e, sem dúvida, como é importante olharmos para nós mesmos, ou seja, para o que acontece à nossa volta ou perto de nós, particularmente dentro das nossas famílias e dos nossos círculos amigos, para podermos vislumbrar esse “melhor” numa visão mais ampla.

Que bom que acontece um evento denominado “Você e a Paz”! Conforme o tempo vai passando, percebemos o quanto o apelo dele se torna sempre mais atual. Que bom, querido irmão e querida irmã, se cada um de nós nos identificamos com este “você”! Quem é responsável pela paz? Não há dúvida que, quando pensamos nas inúmeras situações que nos entristecem, que nos aborrecem, e que também provocamos na vida dos outros, só podemos responder a essa pergunta com o pronome “nós”. E este nós não produz nenhum efeito, se ele se perde num plural no qual, cada singular, isto é, cada indivíduo não assume a sua parte no espaço que lhe cabe, a começar da própria família, como também em sua vida profissional.

Parece que vivemos numa era ou num tempo no qual compromissos na construção do bem comum cada vez mais são delegados, ou seja, “isto não é para mim”, “não é problema meu”, “não conseguirei mudar o mundo”. Pois é, o demônio adora tais pensamentos, afinal de contas é ele mesmo que os patrocina!

Não estou aqui pra falar do demônio, e sim da Paz! A questão é que, se não tomarmos cuidado, ou seja, se não nos policiarmos, “pintamos” essa paz com uma cor que é a mesma coisa que “nada”.

Paz é eu concordar com tudo, para não me indispor com os outros? Uma coisa é agredir e querer se impor sobre os outros, mas outra coisa, bem diferente, é estar em busca da verdade – e essa busca deve ser um contínuo aperfeiçoamento até o fim da vida – com referência, porém, naquilo que sempre devemos ter como “princípios”, “valores”. O problema é que estamos vivenciando uma realidade de tamanha desconstrução ou desmonte, que, de fato, como bem falamos, cada vez mais, parece que o certo se tornou errado e, consequentemente, o inverso também é verdadeiro: o errado se tornou certo. Reflitamos, pois, com um pouco de discernimento situações de violência que temos acompanhado recentemente, violência não apenas contra a vida do próximo e sim contra a sua própria, violência que se expressa de múltiplas maneiras, inclusive com a desculpa de uma “liberdade de expressão”, e tiremos nossas próprias conclusões. Se não querermos enxergar agora, obrigatoriamente teremos que consentir, amanhã, porém, talvez, num tempo tardio, com consequências irreversíveis, que fomos muito passivos, muito silenciosos face a acontecimentos que podemos pensar que só se manifestam na vida de outras pessoas, ou, como se diz, “no vizinho”.

Já diz o ditado, muito verdadeiro, que o pior cego é aquele que não quer ver, e não aquela pessoa que não vê. Não é essa cegueira que Jesus condenava? Não é essa cegueira de extremo orgulho, arrogância, soberba, inveja, sede de poder que o levou à cruz?

Associamos com muita tranquilidade a paz com a figura de Francisco de Assis. Outro dia recebi um desenho de São Francisco de Assis, com uma frase dele: “Para você pregar a paz é preciso, primeiro, tê-la”. Sem dúvida, é uma grande verdade, pois, como dizemos, de palavras bonitas o mundo está cheio. Como afirmava Santo Antonio, “a palavra é viva quando falam as obras. Cessem, pois, as palavras e falem as obras. Estamos cheios de palavras, mas vazios de obras!”

A questão é: o que é essa paz? Numa concepção muito subjetivista, individualista, posso dizer que estou em paz logo após ter feito um grande mal a alguém, até mesmo provocado um homicídio. O próprio suicídio, que parece cada vez mais nos assustar, seja entre jovens, seja entre adultos, embora as situações fiquem quase sempre ocultas, é procurado justamente para que se obtenha paz! Então, esta pergunta se torna cada vez mais intrigante: que sociedade tão contraditória é esta, na qual vivemos e pela qual somos responsáveis na colaboração que nos cabe oferecer?

É verdadeira a paz de quem tem uma iniciativa ou apóia uma agressão à natureza, como, por exemplo, aqui ao nosso redor, com tantas queimadas?  É verdadeiro o desejo de paz de quem está à frente ou incentiva um megaprojeto de cerca de um bilhão de reais ou quase isto, para uma barragem que, na justificativa de oferecer mais água à nossa população, causa uma enorme interrogação e preocupação pela grande possibilidade de risco à segurança de nossos irmãos, particularmente de Pedreira, sem contar consequências à fauna e à flora, bem como até ao próprio clima? Se o problema hídrico é crucial, não temos alternativas menos arriscadas e menos custosas?

É possível uma paz tranquila ou um tanto quanto cômoda com um punhado de “lixo” que entra em nossas casas por tantos canais de TV, especificamente por um, cujo nome nem precisamos expressar aqui, de tanto que tem sido comentado nos últimos dias, forçando, por assim dizer, seja subliminarmente seja às claras, uma mensagem profundamente prejudicial aos valores e princípios familiares conquistados, muitas vezes com tão grande suor e luta, ao longo de tanto tempo?

Podemos afirmar que gozamos de uma paz social saudável se, em parte de nossas escolas – se não forem bastantes! – a educação tornou-se tão diabólica que jamais mereceria ser chamada de “educação”, considerando a demoníaca “aprendizagem” de uma criança ter que pensar em escolher se ela prefere ser homem ou mulher?

Se dissermos ou mesmo só pensarmos que a paz não tem nada a ver com estas e tantas outras realidades que não cabe falarmos aqui, devido ao tempo, não podemos afirmar que nos preocupamos com a paz, pois não há como negarmos que, para abordá-la com propriedade, necessitamos enxergar amplamente tudo o que nos cerca, todas as classes sociais e faixas etárias, todos os acontecimentos que estão à nossa volta e que, com maior ou menor força, incidem na formação do comportamento humano.

No final dessas minhas palavras, quero citar o Papa Francisco, num pequeno trecho de sua homilia em uma missa celebrada no dia 4 de outubro de 2013, 1º ano de seu pontificado, numa visita que fez a Assis, na Praça São Francisco de Assis que parecia um imenso “mar de gente”.

Uma das coisas “de que Francisco nos dá testemunho: quem segue a Cristo, recebe a verdadeira paz, a paz que só Ele, e não o mundo, nos pode dar. Na ideia de muitos, São Francisco aparece associado com a paz; e está certo, mas poucos vão em profundidade. Qual é a paz que Francisco acolheu e viveu, e nos transmite? A paz de Cristo, que passou através do maior amor, o da Cruz. É a paz que Jesus Ressuscitado deu aos discípulos, quando apareceu no meio deles (cf. Jo 20, 19.20).

A paz franciscana não é um sentimento piegas. Por favor, este São Francisco não existe! E também não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos… Também isto não é franciscano! Também isto não é franciscano, mas uma ideia que alguns se formaram. A paz de São Francisco é a de Cristo, e encontra-a quem “toma sobre si” o seu “jugo”, isto é, o seu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei (cf. Jo 13, 34; 15, 12). E este jugo não se pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas se pode levar com mansidão e humildade de coração.

São Francisco dá testemunho de respeito por tudo, dá testemunho de que o homem é chamado a salvaguardar o homem, de modo que o homem esteja no centro da criação, no lugar onde Deus – o Criador – o quis; e não instrumento dos ídolos que nós criamos! A harmonia e a paz! Francisco foi homem de harmonia e de paz.

Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a ser “instrumentos da paz”, da paz que tem a sua fonte em Deus, a paz que nos trouxe o Senhor Jesus.”

Termino com três iluminadas sentenças, como assim considero, de três personalidades, conforme uma ordem cronológica. Lembremos uma sábia afirmação do grande Mahatma Gandhi, líder pacifista indiano, falecido em 1948: “Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho”. E cito outra, tão sábia quanto a anterior, de Santa Madre Teresa de Calcutá, missionária albanesa, falecida há 20 anos (1997): “Ontem foi embora. Amanhã ainda não veio. Temos somente hoje, comecemos! Qualquer ato de amor, por menor que seja, é um trabalho pela paz!”. Menciono uma última afirmação de um escritor muito lido, médico psiquiatra e professor, Augusto Cury: “Nunca imaginei que o amor ao próximo e a agressividade morassem na mesma casa. Nunca pensei que a paz e a guerra habitavam no mesmo ser humano”.

 

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