Prezado(a) irmão(ã), eis um estudo do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos. Persevere no Curso e na oração com a graça de Deus!
- Marcos escreveu o segundo Evangelho
Marcos, que significa “Servo de Marte”, é o nome romano de João Marcos ou apenas João. Vem de uma família respeitada entre os judeus, de modo que em sua casa se reuniam os cristãos da comunidade primitiva de Jerusalém (cf. At 12,12). Parente de Barnabé, uniu-se a ele para evangelizar a ilha de Chipre (cf. At 15,36-39). Ao que tudo indica, esteve em Roma entre os anos de 63/64, com Pedro e Paulo, e aí redigiu seu Evangelho. Com o martírio desses dois apóstolos, deixou Roma. “É antiquíssima a tradição segundo a qual Marcos teria, em seguida, evangelizado o Egito, fundando a comunidade cristã de Alexandria. Aí morreu, selando com o próprio sangue, a fé e o amor a Cristo” (Dom Amaury Castanho. Iniciação à leitura da Bíblia, p. 161).
Ao contrário de Mateus (cf. 10,2-4), Marcos não foi apóstolo, mas discípulo deles; em especial, de Pedro (cf. 1Pd 5,13) que provavelmente o batizou. Também acompanhou Paulo no início de sua primeira viagem missionária (cf. At 13,5), porém não prosseguiu (cf. At 13,13). Daí, Paulo não tê-lo chamado para a segunda viagem (cf. At 15,37-40). O autor do segundo Evangelho volta a aparecer como colaborador de Paulo na sua primeira prisão ou cativeiro (cf. Cl 4,10; Fm 23-24) e lhe é muito útil em seu ministério (2Tm 4,11). Crê-se que o próprio Marcos parece referir-se a si mesmo no seu Evangelho (cf. 14,31). No entanto, é na Tradição que temos – especialmente por meio de Pápias, Bispo de Hierápolis – a confirmação de que o segundo Evangelho é de sua autoria (cf. História Eclesiástica III, 39,15).
- Algumas características particulares de Marcos
Podemos apontar com os estudiosos três características particulares no Evangelho de Marcos:
2.1. Ele limita sua narrativa ao discurso de Pedro em Atos 1,2 e 10,37. Sim, Marcos vai do Batismo de penitência ministrado João à glorificação de Jesus sem, no entanto, mencionar a sua infância como fazem Lucas (1,1-2,52) e Mateus (1,1-2,23).
2.2. Pedro tem lugar de destaque no Evangelho segundo Marcos (1,29-31.36; 5,37; 9,2-6; 11,21; 14,33), mas também suas falhas são destacadas (cf. Mc 8,32-33; 14,37.66-72); contudo, o que poderia se tornar motivo de elogio a Pedro é silenciado (cf. Mt 14,28-31; 16,17-19). Isso se explica de dois modos que, a nosso ver, se complementam: a) “a pessoa de Pedro é indiretamente responsável pela redação do Evangelho de Marcos” (Dom Estêvão Bettencourt; Maria de Lourdes Corrêa Lima. Curso Bíblico, p. 91), portanto, não elogiaria a si mesmo e b) a “fidelidade à história faz que [Marcos – nota nossa] refira mesmo alguns fatos desabonadores do Apóstolo” (Dom Amaury Castanho. Iniciação à leitura da Bíblia, p. 162).
2.3. Marcos cita termos aramaicos: Boanerges (Filho do Trovão), em 3,17; Talítha Koum (Filha, levanta-te), em 5,41; Effatha (Abre-te), em 7,34; Abba (Pai), em 14,36; Eloi, Eloi, lamá sabachtháni (Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?), em 15,34. Isso demonstra que, em sua pregação, ele se vale do fundo original da catequese dos apóstolos, ou seja, transmite em grego o que ouviu em aramaico com o estilo simples e próprio dos semitas.
- Marcos se dirige aos pagãos convertidos ao Cristianismo
Marcos, ao contrário de Mateus, não escreveu para judeus, mas para pagãos convertidos ao Cristianismo. Pessoas de Roma ou do Lácio, sobretudo. Daí, algumas particularidades:
– Toda vez que cita termos aramaicos, os traduz (3,17; 5,41; 7,11-34; 10,46; 14,36; 15,22-34).
– Explica a seus leitores certos costumes judaicos, pois sabe que os pagãos não os conheciam (7,3-4; 14,12; 15,42).
– Não trata de coisas que poderiam ser muito claras aos judeus, mas estranhas aos não judeus: a Lei de Moisés (cf. Mt 5-7), o sinal de Jonas (cf. Mt 16,4 → Mc 8,12) etc.
– Quase não cita o Antigo Testamento, pois – ao contrário de Mateus – não tem a preocupação de comprovar aos seus leitores que as profecias da Antiga Aliança se cumpriram plenamente em Jesus Cristo (cf. Lição VI, item 2.1).
– Não mencionou ou mesmo amenizou tudo o que pudesse ser causa de mal-entendido aos pagãos: compare Mt 15,26 e Mc 7,27; Mt 10,5-6 e Mc 3,14-19; 6,7-9; Mt 10,17-19 e Mc 13,9-11 etc.
– Não elogia a prioridade de Israel – filho da promessa – na pregação.
– Fala de Rufo (15,21)… o mesmo que Paulo saúda em Rm 16,13. Não o faria se Rufo não fosse alguém que Marcos mesmo evangelizou e era conhecido dos romanos.
- Os três grandes temas de Marcos
4.1. Marcos é mais sóbrio ou “pobre” nos discursos, no entanto, rico nas narrativas que, com seus detalhes, tornam o segundo Evangelho movimentado e com cenas vivas. – Sim, a brevidade de Mc é evidente: dos cinco grandes discursos de Mateus, Marcos só registra dois, o das parábolas (Mc 4,1-34) – que são três em vez de sete – e o escatológico (Mc 13,1-37). Todo o capítulo 23 de Mt se reduz a Mc 12,38-40; Mt 18,1-10 a Mc 9,42-50 e Mt 24,36-25,46 a Mc 13,33-37.
Contudo, as narrativas de Marcos são mais detalhistas e vivas que as de Mateus: a) Jesus cercado pelas multidões não tem tempo de se alimentar (cf. Mc 1,37-45; 2,1-4.13; 3,7-10.20s.31s; 4,1; 5,21.27.38-40; 6,31-34.55s); b) os atos de Jesus causam admiração e reverência (cf. Mc 1,22.27.45; 2,12; 4,41; 5,20.42; 6,2s; 10,32s); c) os afetos de Cristo são anotados (cf. Mc 3,5.34; 4,38 (→ Mt 8,24); 5,32; 8,12-32; 10,16.21-23; 11,11) e d) o apreço de Mc pelos números estimulam a reconstituição das cenas em nossa mente (cf. Mc 2-3; 5,13; 14,5. 30-72; 14,41; 15-25).
4.2. Em Marcos, a divindade de Cristo é realçada por sua humanidade. – Sim, o Jesus de Mc aparece muito humano e causa, por isso, mais de uma vez, desconcerto nos fiéis: a) em Mc 3,21, os familiares do Senhor dizem que ele “está fora de si”. Ora, isso não quer dizer que Ele seja doente mental, mas, sim, que fugia ao comum por zelo pastoral; b) em Mc 10,18, Jesus diz que só Deus é bom, como se Ele não fosse Deus. Ora, aqui apenas quis exercitar a intuição do jovem que com ele dialoga. Se o moço viu n’Ele algo a ultrapassar a bondade humana… Ele só pode ser Deus. De resto, Jesus se apresenta como Deus em Mc 1,1.11; 9,7; 13,32; 14,62 e – por suas ações – em 2,5.10-12; c) em Mc 6,5-6, Jesus não pôde fazer milagres em Nazaré. Ora, Marcos usa uma linguagem comum do povo, pois Deus tudo pode (cf. Mt 13,58); d) em Mc 13,32, Jesus diz não saber a data do fim do mundo. Ora, Deus tudo sabe. Esse modo de falar é um artifício para demonstrar não ser Sua missão fazer essa revelação. Afinal, não precisamos saber a data, mas estar sempre preparados para a vinda gloriosa do Senhor.
4.3. Jesus é o Messias incompreendido. – Há em Marcos uma certa ocultação da Messianidade de Jesus. É o “segredo messiânico” (cf. Mc 9,7.9; cf. também 1,40-45; 5,35-43; 7,31-37). Tal segredo deve ser entendido à luz de Mc 8,31-33. Sim, aí se vê um Messias verdadeiro, portanto muito diferente dos falsos. Estes desejam apenas a glória, ao passo que Cristo é também o Servo Sofredor. Daí, escrever Jean Delorme: “De fato, este homem era Filho de Deus” (15,39). Ele é o Cristo, mas de um modo todo seu […]. É o crucificado que é Filho de Deus. Temos aqui o ponto culminante do Evangelho de Marcos. É isto que ele quer pôr na cabeça dos cristãos” (Leitura do Evangelho segundo Marcos, p. 23-24).
Aliás, desde o início do seu Evangelho, Marcos trabalha com Jesus enfrentando seus perseguidores que, incomodados com Ele, querem condená-Lo à morte: 2,1-12.13-17.18-22.23-28; 3,1-6. Para bem realçar o ódio dos inimigos a Cristo, ele reúne, em 2,1-3,6, o que em Mateus está dividido em 9,1-17 e 12,1-14.
Tenhamos presente que Jesus é para Marcos o “Leão da Tribo de Judá” (Ap 5,5).
Consulte as citações bíblicas. Excelente estudo com as luzes do Espírito Santo!
Glossário: a) Escatológico (de schatón, no grego): diz respeito aos últimos acontecimentos; b) Semitas: descendentes de Sem, filho de Noé (cf. Gn 10,22-30). Corresponde a diversos povos dentre eles os israelitas; c) Messias: termo hebraico que significa Ungido e foi traduzido para o grego por Christós, o Ungido que veio anunciar a Boa-Nova (cf. Lc 4,18-21).
Questionário
1) Quem foi o evangelista Marcos? Era Apóstolo? Explique. 2) Como se esclarece o destaque de Pedro no Evangelho segundo Marcos? Detalhe bem sua resposta. 3) A quem Marcos se dirige? Que argumentos você cita para justifica sua resposta anterior? 4) Descreva o primeiro grande tema do Evangelho segundo Marcos. 5) Como Marcos nos traz a divindade de Cristo? Dê detalhes. 6) Qual deve ser a nossa atitude em relação ao fim do mundo? 7) Transcreva duas passagens do Evangelho segundo Marcos que mostram Jesus como o Messias incompreendido e perseguido.
Referências
BETTENCOURT, Dom Estêvão; LIMA, Maria de Lourdes Corrêa. Curso Bíblico. 2ª ed. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2016, p. 90-96.
CASTANHO, Dom Amaury. Iniciação à leitura da Bíblia. 5ª ed. Aparecida: Santuário, 2007, p. 160-163.
DELORME, Jean. Leitura do Evangelho segundo Marcos. São Paulo: Paulinas, 1982.
KONINGS, Johan. A palavra se fez livro. São Paulo: Loyola, 1999, p. 52-53.
Envio das respostas: Na folha, nome completo e telefone, pergunta enumerada e a resposta. Pode enviar no e-mail a seguir: toppaz1@gmail.com ou por correio: Curso Bíblico. Rua Barão de Campinas, 307, Centro. CEP 13900-110. Amparo, SP.