Devolver a vida aos mortos é um dos sinais da chegada dos tempos messiânicos, um sinal do poder de Deus. Só Deus tem poder sobre a vida e a morte. Já os profetas eram ocasionalmente investidos desse poder (1ª leitura), para mostrar que o Deus de Israel não era um Deus de morte, um Deus castigador, mas um Deus de vida, de bondade e misericórdia.
Elias invoca o poder de Deus: “Senhor, eu te peço!” Jesus, porém, age em seu próprio nome, ao reanimar o filho da viúva: “Eu te ordeno!” Com isso, revela sua identidade divina, mostra que é muito mais que um simples profeta. Mas o povo não compreende a mensagem, embora aclame o profeta.
De qualquer forma, o milagre de Jesus “é ainda somente um sinal, assim como a reanimação de um cadáver é apenas uma vitória momentânea, não definitiva. A libertação total da morte e de todo mal, e, portanto, a salvação definitiva da vida, só virá com a ressurreição de Jesus”, diz o Missal Dominical.
A ressurreição de Jesus não é somente uma “reanimação” do seu corpo, mas uma “animação” nova, gloriosa, diferente daquela da encarnação. É a entrada em uma nova condição de existência. É nessa “nova vida” que consiste a salvação que Jesus nos traz, para além da vida terrena, do desenvolvimento e bem-estar material. Os demais favores com que Deus nos sustenta neste mundo são apenas sinais desta outra realidade mais profunda e definitiva.
É pela Páscoa de Jesus que nós fazemos definitivamente a nossa “passagem” para Deus e em Deus. Uma passagem que inclui o homem todo, corpo e espírito, história e universo. Assim como a ressurreição de Jesus aboliu os limites impostos pela encarnação e retirou os véus que nos impediam de ver a sua glória divina, assim também nós podemos, em Cristo ressuscitado, transcender as limitações, dificuldades e “mortes” deste mundo e viver já como ressuscitados, desfrutando da vida nova que transcende a morte, a mesma vida nova que transformou a vida de São Paulo (2ª leitura).
Neste mundo, a morte continua presente, mas se torna “passagem”. A humanidade tem diante de si, não o nada sem fim, mas a vida em plenitude sem fim, manifestada no Cristo ressuscitado.
Margarida Hulshof
Texto integrante do folheto ‘DEUS CONOSCO | A PALAVRA ILUMINA – DIOCESE DE AMPARO’ (05.06.16 – 10º Domingo Comum)