CONVERSÃO RELIGIOSA QUE NÃO MEXE NO BOLSO É AVAREZA PERNICIOSA!

Padre Milton Modesto – Paróquia Santa Maria – Jaguariúna/SP

Ninguém caia na ilusão dos tempos modernos de querer pertencer à Igreja Católica Apostólica Romana sem colaborar com o máximo do mínimo que a mesma Igreja orienta, quando se fala do Dízimo (cf.2 Coríntios 9, 6-9). Cuidado com o fanatismo religioso e mercantilista em torno do dízimo, por aí afora.

“O Dízimo expressa a participação da pessoa batizada na missão de anunciar o Evangelho da alegria” (cf. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – Documento 106, 2016).

O que é o Dízimo? É a contribuição sistemática e periódica dos fiéis, por meio da qual cada fiel pertencente a uma comunidade assume co-responsavelmente a sustentação de seus compromissos religiosos e também sociais. É um compromisso de fé, pois está relacionado com a experiência de Deus.

É impossível evangelizar sem a utilização dos bens materiais, desde os mais simples até os mais complexos. Eles são meios e não fim. Eles são necessários. Não temos como dispensá-los. Jesus também precisou deles (cf. Lucas 8, 1-3); a Igreja também precisa, não do muito, mas do bastante. Da vela ao automóvel, da partilha com os empobrecidos às missões populares, do microfone à conta de energia elétrica, da água aos produtos de limpeza, da formação de lideranças à formação dos futuros sacerdotes etc, tudo tem um custo, assim como na casa da gente. Estamos no mundo, e nele somos chamados a anunciar o Evangelho com ardor, ousadia e criatividade. Isso só é possível quando nós, batizados e batizadas, entendemos que a missão deixada por Jesus deve continuar e que é comum a todos nós.

O Dízimo tem exatamente esse objetivo: possibilitar a evangelização. Quanto mais uma pessoa toma consciência de que é, por natureza, evangelizadora, e que pertence a uma comunidade, tanto mais ela opta pelo dízimo e pelas ofertas, e é generosa também com a mão de obra como ‘prestação de serviço’ ao Evangelho. Ao fazer a sua contribuição (grata devolução), o batizado/a sabe que não está pagando nada à Igreja e sim assumindo o seu lugar nela, também no que diz respeito à sua sustentação. Sim, a conversão mexe com o nosso bolso; o ser cristão exige a partilha que evangeliza.

O Papa Francisco tem sido claro e direto: a evangelização não é uma opção; antes, é uma obrigação (cf. 1Cor 9, 16), é uma ordem de Jesus (cf. Mt 28, 16-20). E além de ir àqueles que já são cristãos, para re-evangelizá-los, temos que ir além-fronteiras, em outras “aldeias”, como nos diz Jesus: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim” (Mc 1, 38). Sem essa consciência e sem essa fé prática, nossa religiosidade se transforma em mero cumprimento de preceito que se esvazia em si mesmo e não tem sentido.  “Ir além das nossas fronteiras para dizer quem é Jesus àqueles que ainda não O conhecem.” Não é possível cumprir com essa missão se não nos colocarmos em pé, se não sairmos da sacristia, se não formos onde estão as crianças, os jovens, os casais, os idosos, os enfermos, enfim toda e qualquer pessoa que necessita da presença do Senhor, através da nossa disponibilidade, presença e participação ativa. Sobre isto, eis o que diz o Papa Francisco: “Trata-se de abrir as portas e deixar que Jesus possa sair. Muitas vezes ‘fechamos’ Jesus em nossos corações, nossas mãos, em nossas comunidades e, absurdamente, em nossas organizações paroquiais, e não saímos nem deixamos que Ele saia! Abrir as portas para que Ele vá, pelo menos Ele! Sim, trata-se de uma Igreja em saída, isto é, desapegada de suas falsas seguranças e apegos, muito comuns nos tempos atuais (cf. L’Osservatore Romano, n. 2312, p.10).

É para ser uma Igreja em permanente saída que precisamos despertar para o Dízimo e as Ofertas. Seria para nós vergonhoso, para não dizer escandaloso, se, sendo muitos, não tivéssemos os meios necessários para evangelizar.

Antigamente, e ainda até nossos dias, muitas Dioceses, Paróquias e Comunidades de Base tentam sobreviver de festas-quermesses em torno de seus padroeiros. Os tempos são outros e a realidade mudou também. Assim, o Dízimo é, sem dúvida, a melhor resposta que hoje podemos dar para que a Igreja, Comunidade de Comunidades (cf. Comunidade de Comunidades: uma nova paróquia. Documento 100 da CNBB – A partilha 2.4.2 nº 84) tenha o suficiente para cumprir com a missão de anunciar Jesus e participar da sua missão no mundo. É óbvio que a evangelização não se resume ao dízimo, ofertas e festas promocionais, mas ela não acontecerá de forma plena se não formos capazes de superar o egoísmo e a avareza, colocando parte de tudo o que temos a serviço da Igreja na qual somos batizados.

 

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