CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA – RITOS INICIAIS

Artigos de Liturgia, n. 2; junho de 2016

 

Seminarista Rafael Spagiari Giron

Queridos irmãos e irmãs, filhos amados de Deus!

 

            No primeiro artigo pudemos refletir, de forma breve, sobre a origem da Celebração Eucarística da qual participamos todos os domingos; vimos que ela é ação memorial do Mistério Pascal de Jesus Cristo (Paixão, Morte e Ressurreição). Agora, neste segundo artigo, adentraremos nesse Mistério através de sua compreensão por meio da realização e vivência dos Ritos.

            A origem da palavra “rito” nos remete à “repetição de algo”. Assim, para celebrarmos algo, podemos partir de algum esquema já criado anteriormente; por exemplo: sabemos que o aniversário possui um rito, de certa forma, igual para todos os aniversários (chegada na festa, entrega do presente, momento para comer e conversar e, por último, parte-se o bolo); assim celebramos o aniversário. Na fé também há ritos, nos quais as ações se repetem, porém, o sentido daquilo que é celebrado é muito maior do que o rito em si; em um aniversário celebramos o dom da vida; em uma Celebração Eucarística celebramos a Ressurreição de Jesus Cristo e a nossa capacidade de um dia ressuscitarmos com Ele.

            Pois bem, clareado o sentido e compreensão do Rito, agora podemos ir visualizando cada Rito presente na Celebração Eucarística. De modo geral, a Celebração Eucarística se divide em duas partes principais: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Antes da Liturgia da Palavra temos os Ritos Iniciais e, após a Liturgia Eucarística, os Ritos Finais.

            Quando celebramos nossa fé, estando diante de Deus e da comunidade reunida, nosso rito parte do seguinte esquema: 1° acolhida da assembleia que chega e inserção dela no sentido da festa celebrada (Ritos Iniciais); 2° ouvimos Deus falar, compreendemos sua mensagem e damos nossa resposta a Ele (Liturgia da Palavra); 3° acontece a parte central, que chamamos de sacramental: é o momento da memória (que, nesse caso, não é apenas lembrança, mas atualização do sacrifício de Jesus na cruz e de sua ressurreição) da ação salvífica de Deus em favor do povo (Liturgia Eucarística); e, 4° há a despedida e envio para o anúncio da Alegria celebrada (Ritos Finais).

            Esse esquema é composto por uma sequência de ritos que não se alteram. Quanto mais a entendemos, mais participamos. Essa sequência decorre do fato de que a liturgia da Igreja é, ao mesmo tempo, humana e divina. Independentemente da nossa efetiva participação, na Celebração Eucarística há a presença e ação do Espírito Santo. É importante lembrarmos que não “assistimos” à missa, mas “participamos” dela; não assistimos aos ritos, mas nos adentramos neles e os vivenciamos.

            O objetivo dos ritos iniciais é fazer com que cada participante forme com os demais uma assembleia orante, povo celebrante, corpo Místico de Cristo, e se disponha a ouvir atentamente a Palavra de Deus e celebrar dignamente o Mistério Pascal. É realizado por quem preside a Celebração Eucarística, padre ou bispo, da cadeira presidencial. Os Ritos Iniciais são compostos de: Canto Inicial; Sinal da Cruz; Saudação Apostólica; Ato Penitencial; Kyrie; Glória; e Oração do Dia. Vejamos, abaixo, o significado de cada um deles:

CANTO INICIAL: Possui a função de dar início à celebração, promovendo a unidade da assembleia e introduzindo-a no mistério celebrado. Também acompanha a procissão de entrada. É uma expressão de fé da comunidade reunida. Por isso, deve estar sempre ligado ao tempo litúrgico e à realidade a ser celebrada.

           O beijo no altar, feito por quem preside (bispo, presbítero ou diácono), logo à chegada, significa beijar Cristo, pois o Altar representa (é símbolo) o próprio Cristo. Assim se expressa a íntima relação com o Senhor, pois é em nome d’Ele que o ministro ordenado irá presidir a liturgia.

           É também durante o Canto Inicial que o presidente da celebração incensa o altar e a cruz. Queimar incenso na Bíblia era um ato de adoração a Deus. Significa, também, respeito, oferta, oração e louvor que sobem até Deus, como a fumaça do incenso. O perfume remete-nos ao bom odor de Cristo (ou seja, a sua santidade).

           Se não houver o Canto Inicial, aquele que preside a celebração, ou ainda outro fiel, recita a Antífona de Entrada presente no Missal, logo após a saudação apostólica, também como forma de inserção no mistério celebrado.

SINAL DA CRUZ: Ao fazer o sinal da cruz, asseguramos e antecipamos aquilo que celebramos na Missa: que seremos tocados e marcados na vida pelo Mistério Pascal do Senhor (Paixão, Morte e Ressurreição). É um símbolo que marca a pessoa vinculando-a à Santíssima Trindade. Por isso, dizemos que é a invocação da Trindade Santa.

SAUDAÇÃO APOSTÓLICA: Após o sinal da cruz há o momento da Saudação Apostólica. Essa saudação é retirada da saudação do apóstolo Paulo às suas comunidades. Ela indica que a convocação da assembleia é um gesto de fé e que vai se realizar um acontecimento em que Cristo Jesus, o Espírito e o próprio Pai serão protagonistas.

ATO PENITENCIAL: Antes de ouvir a Palavra de Deus e receber o Pão Eucarístico, a comunidade deve se reconhecer limitada e pecadora e, por isso, invoca o perdão e a ajuda de Deus. Esse rito tem o objetivo de levar-nos ao reconhecimento do quanto Deus nos ama e nos trata com misericórdia, ternura e carinho, e a pedir-lhe a graça de corresponder a esse amor. Assim, o Ato Penitencial, na medida em que experimentamos a misericórdia divina, nos leva ao arrependimento e ao desejo de conversão de vida (afastamento do pecado), uma vez que, diante de Deus somos criaturas e, diante dos homens, irmãos uns dos outros. Poderá ser substituído pela aspersão com água ou pela recitação dos salmos da Liturgia das Horas.

           Esse rito não perdoa os pecados. Por isso, não substitui o sacramento da Confissão. Trata-se apenas de iniciar a celebração com o coração humilde, aberto e feliz por estar diante de Deus, nosso Criador.

KYRIE: O Kyrie aparece na Bíblia como atitude de fé: pedir a Deus sua misericórdia, porque por nós mesmos não podemos nos salvar. É a súplica de tantos enfermos no Evangelho. Essa palavra significa “Senhor”. É o título utilizado pelos primeiros cristãos para designar Cristo Ressuscitado. O Kyrie é composto da expressão “Senhor, tende piedade de nós”, que poderá vir intercalada com o canto do Ato Penitencial. Caso não haja essas palavras na letra do canto do Ato Penitencial, aí sim aquele que preside faz as invocações do Kyrie logo após a conclusão do Ato Penitencial.

GLÓRIA: O Glória é um hino oficial da Igreja e, por isso, tem uma fórmula própria, com conteúdo cristológico, ou seja, exalta Jesus Cristo. Ele expressa a alegria que enche o coração da comunidade ao saber que o Pai, Deus Criador, realizou sua promessa de Aliança com a humanidade enviando seu próprio filho, Jesus Cristo. Somente no século VI foi introduzido na Missa de Natal celebrada pelo papa. Atribui-se ao papa Símaco (ano de 498-514) o seu uso também aos domingos. É cantado nos domingos e solenidades da Igreja. É omitido durante o Tempo do Advento e da Quaresma.

ORAÇÃO DO DIA: Aquele que preside convida a assembleia a rezar logo após um breve momento de silêncio introduzido pelo “Oremos”. Através dessa oração o sacerdote recolhe as intenções do povo e as coloca diante de Deus-Pai, por Cristo no Espírito Santo. Por ser essa oração acolhedora dos pedidos, pode também ser chamada de Oração de Coleta.

 

            No próximo artigo, continuaremos com a explicação dos Ritos da Celebração Eucarística a partir da Liturgia da Palavra. Por ora, basta compreendermos que esses Ritos, acima mencionados, fazem com que se constitua a assembleia orante e nos inserem num contexto oracional, preparando nosso corpo e espírito para a escuta de Deus que vai nos falar por meio da Sagrada Escritura. Apenas reforçando: todos esses ritos devem ser vivenciados, interiormente, por nós; caso contrário, não passarão de “coisas repetidas” e sem sentido. Basta acolhermos e vivermos a fé celebrando-a para que ela produza frutos em nós. Faça um propósito consigo mesmo: ao participar de uma Celebração Eucarística, relembre o que cada Rito quer expressar e você perceberá o quão bela é a liturgia da Igreja. Faça essa experiência!

Para ler o artigo n. 1 clique aqui: ORIGEM DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

Para ler o artigo n. 3 clique aqui: CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA – LITURGIA DA PALAVRA

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