A palavra é nosso principal canal de comunicação, e a comunicação é uma necessidade vital do ser humano, assim como o alimento. E quando se trata de pessoas muito próximas, pessoas que amamos, essa necessidade é ainda maior.
Assim como o corpo não pode sobreviver sem alimento, nenhum relacionamento afetivo pode sobreviver sem comunicação. Temos necessidade de conhecer o outro e de nos dar a conhecer, de dialogar sobre o que pensamos e sentimos. E a mesma coisa deve acontecer em nosso relacionamento com Deus, se o amamos e queremos viver com ele uma relação de intimidade.
Deus não nos quer distantes, como filhos afastados da casa paterna. Ao contrário, quer estar ao nosso lado, sustentando-nos com seu amor, ajudando-nos em nossas dificuldades e orientando-nos em nossas dúvidas. É para isso que ele se comunica, se revela: para que o possamos conhecer, e, conhecendo-o, possamos amá-lo. A Bíblia é essa “carta de amor” onde Deus nos fala de si mesmo… onde revela seu amor e nos mostra o caminho para a intimidade com ele. A Palavra de Deus não apenas comunica uma mensagem, mas “é” a própria mensagem. É a força criadora que dá vida a tudo (cf. Gn 1), e que se encarnou em Jesus (Jo 1, 3.14).
Deus quis que ficasse registrada, por escrito, a relação de amor que ele viveu com nossos antepassados, para que ela nos sirva de modelo e guia em nossa própria experiência com Deus. São Paulo diz que toda a história do povo hebreu, no Antigo Testamento, aconteceu “para nossa instrução” (1 Cor 10,11). O que Deus revelou no passado ao seu povo escolhido é o que Ele continua revelando a todos nós. Na história deles reconhecemos nossa própria história, nossos problemas, nossas virtudes e fraquezas, nossas vitórias e infidelidades. A forma como o povo da Bíblia correspondia, ou não, ao amor de Deus, revela-nos as consequências de nossas escolhas. Sua experiência serve de lição para nós, mostrando também – e sobretudo – a grandeza da misericórdia de Deus, que nunca desampara seus filhos.
Nós, hoje, somos mais privilegiados do que o povo hebreu, que só podia ter de Deus uma ideia bastante vaga, a partir das palavras dos profetas e da tradição dos patriarcas. Para nós, povo da Nova Aliança, Deus se revelou de forma muito mais clara e completa, por meio de Jesus Cristo, a sua Palavra (Verbo), que assumiu nossa natureza e nossa realidade humana para “falar a nossa língua”, para se tornar compreensível e visível por nós. Por meio de Jesus, podemos conhecer a Deus da forma mais perfeita que nosso limitado entendimento permite, pois ele disse: “Quem me vê, vê o Pai”.
Deus se comunica sempre, e nos oferece constantemente a água viva do Espírito Santo para renovar nossa vida e iluminar nosso entendimento, para que possamos compreender sua palavra, sua vontade, seu amor. Nós é que muitas vezes não ouvimos, não prestamos atenção, não reconhecemos sua voz. Ficamos distraídos, distantes, ou rebeldes como o Filho Pródigo. E, por isso, tantas vezes achamos difícil rezar, achamos difícil amar a Deus e entender seu plano para nossa vida. Está faltando comunicação… porque ninguém pode amar aquilo que não conhece.
Se ficamos sem comer, sentimos fraqueza, e então buscamos logo saciar a necessidade de alimento. Quando sentimos fraqueza espiritual, porém, nem sempre nos preocupamos em buscar o alimento que nos falta, que é a Palavra de Deus, os sacramentos, a oração.
Precisamos desse alimento para fortalecer o espírito. E o alimento espiritual, assim como o material, precisa ser sempre renovado, porque a necessidade é constante. É a comunicação, o diálogo que mantém vivo o amor. E o diálogo supõe resposta, atenção, presença. Para que haja comunicação com Deus, não basta que ele fale, é preciso que nós prestemos atenção e busquemos compreender, dando a ele nossa resposta intelectual, afetiva e vivencial.
A Palavra de Deus é sempre nova, e atende à nossa necessidade de cada momento. A cada vez que a lemos ou ouvimos (e respondemos na oração e ação), Deus se faz presente com sua força, seus ensinamentos, e principalmente com seu grande amor. Quando nos falta esse amor, é sempre por culpa nossa, porque fechamos os ouvidos às palavras do Amado.
Há muitas maneiras de realizar esse diálogo, esse encontro com Deus por meio de sua Palavra. Não existe uma maneira melhor que outra, a melhor é aquela que mais nos ajuda a encontrar Deus.
A Igreja nos orienta, propondo modelos e roteiros de leitura, além de pistas para interpretação. Ela é como o dicionário ou o manual de instruções, que nos ensina como entender o que Deus nos quer revelar. É como a professora que não apenas nos coloca o livro nas mãos, mas nos orienta na descoberta dos mistérios ali contidos. Embora a experiência de cada um seja sempre pessoal e única, ela se torna mais rica e proveitosa quando apoiada na orientação segura de quem já conhece o caminho.
Margarida Hulshof – Paróquia Divino Espírito Santo/Holambra
Texto integrante da 6ª edição do Informativo O AMPARO – veículo impresso oficial da Diocese de Amparo
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