Sim, Jesus não fala de uma cruz qualquer. Fala daquela cruz que cabe a cada um de nós. “Quem não carrega a SUA cruz, não pode ser meu discípulo”. E é muito estranho que essa verdade possa espantar alguém. Afinal, se o Mestre e Senhor morreu crucificado, abraçado à SUA cruz, por que motivo nós iríamos segui-lo com as mãos abanando? Não seria uma pretensão infantil imaginar um cristianismo sem cruz?
Creio que estamos diante de um véu íntimo, uma cegueira interior que nos impede de olhar de frente a cruz. Muitas vezes, fiz a seguinte experiência: falando a um grupo de católicos, pergunto o que é que Santa Teresinha do Menino Jesus tem nas mãos, em suas imagens. Um coral uníssono responde: rosas! De fato, lá estão as rosas… Mas por que será que nunca me respondem: a cruz? Pois lá está também, bem visível, a figura do Crucificado, pregado à sua cruz…
Parece que nossos olhos não querem ver a evidência: nosso fundador não foi um “vencedor” aos olhos do mundo. Morreu crucificado, após terríveis sofrimentos físicos e morais. Seus apóstolos foram todos martirizados. Ainda hoje, por este mundo afora, os fiéis sofrem perseguições e prejuízos de toda ordem. O cristianismo incomoda, num mundo dominado pelo egoísmo. Mas, do ponto de vista de Deus, a cruz não é derrota, é vitória: vitória sobre a morte, sobre o mundo que passa, sobre nós mesmos, quando aprendemos a nos desapegar do mundo com seus atrativos.
Quantas queixas se ouve dos que se dizem seguidores de Jesus! “Vejam só o que fizeram comigo! Ninguém me valoriza nesta comunidade… Fiz tanto por aquela paróquia, e, agora, me substituíram! Tantos anos de trabalho e me trocaram por alguém mais jovem (ou mais letrado… ou mais influente…)”.
Fica evidente que esses “fiéis” não estavam lá por amor a Deus. Queriam aplausos e reconhecimento. No fundo, não queriam a cruz… Assumiram um trabalho sem investir nas condições para poder levá-lo até o fim… Confiaram demais nas próprias forças e capacidades…
É Madre Teresa de Calcutá quem nos ensina: “O sofrimento jamais desaparecerá completamente de nossa vida. Portanto, não tenham medo. O sofrimento é grande veículo de amor se o desfrutarem, e, sobretudo, se o oferecerem pela paz do mundo. O sofrimento em si é inútil, mas o sofrimento partilhado com a paixão de Cristo é dom maravilhoso e sinal de amor.”
Quando abraçaremos a nossa cruz?
Antonio Carlos Santini
Texto integrante do folheto ‘DEUS CONOSCO | A PALAVRA ILUMINA – DIOCESE DE AMPARO’ (04.09.16 – 23º Domingo Comum)