No tempo propício da quaresma, o Instituto Samaritano, atendido pela Paróquia de Santo Antônio de Itapira, realizou, junto aos irmãos moradores de rua assistidos pela entidade, a tradicional meditação da via-sacra. Diariamente, depois de servida uma caprichada refeição, foram contempladas as estações da via dolorosa de Nosso Senhor, como alimento precioso para as almas. Foi uma experiência rica de encontro silencioso com Deus, de oração e de partilha, que vem contribuindo muito para a realização deste trabalho. De fato, desde o início, durante o inverno de 2016, os paroquianos têm se empenhado em fazer deste serviço um verdadeiro apostolado, empenho que se renova no período quaresmal, pois, como lembra o Papa Francisco, a Igreja não é uma mera entidade filantrópica, mas é entusiasmada pelo Espírito Santo a dar testemunho vivo do Evangelho, levando adiante não apenas uma mensagem bonita ou um serviço caritativo, mas a própria pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Sabemos que nos tempos atuais nem sempre é fácil alcançar este propósito. As respostas para os problemas humanos concretos parecem sempre apontar para as realidades meramente mundanas: ora a política, ora a economia, ora a psicologia. Deus é posto de lado, como um complemento, quando não é simplesmente ignorado. O homem de hoje quer dar conta de si mesmo, aposta em sua capacidade de resolver tudo sozinho, confiando demasiado em suas instituições. Mesmo nós, que somos cristãos e participamos da vida da Igreja, também somos tentados a instrumentalizar Deus, valendo-nos Dele simplesmente para chancelar nossas próprias decisões, presos em um ativismo cheio de compromissos e horários, mas sem tempo e espaço para o precioso silêncio em que nos encontramos com Ele.
É verdade que, mesmo nesses tempos difíceis, se apresentam propostas de ajuda aos mais pobres e necessitados. Existe uma solidariedade natural e humana que, embora muito frágil e, comumente, abandonada, é capaz de inspirar algumas iniciativas desta ordem. Todavia, a experiência nos mostra que esses serviços, não raro, redundam num mero assistencialismo, que não se aprofunda no cuidado do outro, mas se restringe a uma assistência material, que não alcança as reais carências humanas. Sem esquecer o frequente uso político-ideológico dessas pessoas mais frágeis, usadas como propaganda política, transformadas em bandeiras e discursos falsos.
Por isso, como Igreja, somos desafiados a ir além desta solidariedade, para mergulhar de fato na caridade cristã, chamado que se torna ainda mais forte durante a quaresma. O serviço a nossos irmãos mais pobres deve ser uma resposta profunda Àquele que nos amou primeiro, pois “como não amar de volta um amor assim”? Devemos agir com os olhos na Cruz e o coração cheio de graça, correndo ao encontro daqueles que Ele nos deu para amar, reconhecendo-os como um dom, pois “tudo o que fizeres a um desses pequeninos, é a Mim que fazes”. Assim, não levamos conosco apenas a comida, a cama e a roupa, mas o Amor que nos move e que transborda neste encontro. Este Amor de que também somos tão necessitados e que nos faz estar unidos a estes pequenos, reencontrados com a nossa própria pequenez.
De fato, a experiência do Amor de Deus é algo que extravasa, que não se pode guardar para si. Daí este impulso apostólico, o desejo de anunciar o Evangelho, o espírito missionário que brota naturalmente de todo coração cristão, mas que nem sempre é bem compreendido por aqueles que não comungam desta mesma alegria. Muitas vezes levantam-se objeções à evangelização, tomada como um mero proselitismo, sob o pretexto do respeito às individualidades. Devemos resistir com coragem na fidelidade à nossa missão, cientes de que, embora a resposta da fé seja algo que diz respeito à liberdade de cada um, também faz parte desta mesma liberdade a possibilidade de partilhar a fé. Principalmente, quando estamos convictos de que não existe maior ato de caridade do que anunciar Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
É com esta convicção, guiada pelo Espírito Santo, que a Paróquia de Santo Antônio tem se dedicado ao cuidado dos moradores de rua, levando, especialmente nesta quaresma, não só a comida e o teto, tão necessários, mas também a riqueza do encontro com Jesus crucificado, em união com toda a Igreja. Contamos com as orações dos nossos irmãos diocesanos, para que possamos perseverar neste serviço, sendo fiéis à missão que nos foi confiada. E esperamos que nosso apostolado possa gerar os frutos de conversão desejados por Deus, tanto para os assistidos, quanto para todos os funcionários e voluntários que se empenham em trabalhar pelo Instituto Samaritano.
Informações: Pascom Santo Antônio