Recebemos, há alguns dias, o livro da Dra. Arlene Denise Bacarji que se intitula A impostura no ministério da Ordem: transtornos de personalidade e perversões no clero à luz da psicanálise e da psiquiatria. 2ª edição, 86 páginas.
A autora da obra é uma profissional graduada, mestrada e doutorada em Teologia, filósofa e mestre em Sociologia que se preocupa com o bem da Igreja (cf. p. 7), especialmente no que diz respeito à formação de novos clérigos: diáconos, sacerdotes e bispos.
Daí, decidiu, a partir de ferramentas da Psicanálise e da Psiquiatria, publicar esse livro-alerta, dado que para a escritora “existem fatores de ordem psiquiátrica que interferem nas relações intraeclesiais e que causam inúmeras confusões em sua imagem perante o Povo e a sociedade em geral” (p. 8).
No Prefácio, fica muito claro o objetivo da obra: “Não tenho jamais a pretensão de questionar o sacramento da Ordem; ao contrário, tenho a intenção de protegê-lo contra os impostores e as imposturas que lhe têm sido prejudiciais e que, inclusive, o ameaçam em relação à vivência fecunda do ministério sagrado”. Daí a delimitação do tema exposto por Arlene: “esse [este – nota do autor deste artigo] livro trata somente e apenas de pessoas com problemas de transtornos de personalidade e perversões”. (…) “Estou a falar aqui de uma parcela do clero, que não é a maioria, mas que gera um grande estrago na Igreja de Cristo. São os impostores e não os verdadeiros vocacionados” (p. 7).
A autora diz, na conclusão, esperar que seu “pequeno trabalho possa atingir alguns objetivos: esclarecer o ‘porquê’ de certas pessoas agirem de forma que não compreendíamos antes de ler sobre seus transtornos; trazer luz sobre essas atitudes; mostrar às autoridades da Igreja que estas pessoas fazem parte de um quadro patológico sem perspectiva de cura; diferenciar o pecador comum e normal dessas pessoas para o clero, de forma a evitar uma crise ainda muito maior daqui a alguns anos” (p. 82).
Embora, a Dra. Arlene deixe claro que seu trabalho não é um tratado profundo de patologias (cf. p. 81), examina as raízes da maioria dos problemas psicológicos na primeira infância; trata da chegada dessas pessoas portadoras de transtornos e perversões às fileiras clericais para, no capítulo 3, oferecer algumas possibilidades de saídas aos casos graves que tanto enfeiam a face humana da Mãe Igreja.
A grande maioria desses vocacionados problemáticos é – segundo a autora – dissimulada e enfrentar essas pessoas é deveras perigoso: “Qualquer denúncia contra elas as transforma em vítimas rapidamente e em algoz aquele que denuncia, inibindo assim as pessoas boas a denunciarem o que veem” (p. 41).
Sim, em linguagem popular, diríamos que “o feitiço pode virar contra o feiticeiro”, pois nem sempre o denunciante se sai bem. Ao contrário, “não são poucos os casos de pessoas boas que deixam sua vocação verdadeira por causa dessas situações, onde elas denunciaram e foram perseguidas e prejudicadas, como se fossem os vilões”. Isso em meio a perseguições – contra os bons vocacionados – nos piores níveis e, não raras vezes, com apoio dos superiores manipulados pelos perversos (cf. p. 41).
Nossa autora lembra também de “alguns seminários que fazem a seleção invertida: enquanto acolhem e chamam homossexuais, espantam os heterossexuais: a formação do chamado ‘lobby gay’, assim como também as questões relacionadas à parte financeira da Igreja, com desvios de dinheiro, rombos em dioceses pelos ecônomos e tantos outros comportamentos que nos deixam perplexos” (p. 71).
O tema é muito importante e merece ser estudado com atenção.
Ir. Vanderlei de Lima é eremita na Diocese de Amparo