A FÉ SE TORNA AÇÃO DE GRAÇAS

CodexAureus_Cleansing_of_the_ten_lepersO evangelho de hoje dá continuidade ao tema de domingo passado: nenhum de nós é merecedor dos favores de Deus, daí a importância de sermos agradecidos.

Em princípio, nada há de errado na atitude dos nove leprosos judeus, pois Jesus lhes havia dito para irem apresentar-se ao sacerdote que poderia dar-lhes o necessário atestado de saúde, e eles obedeceram. Mas o contraste com a gratidão do samaritano indica que eles, provavelmente, consideravam-se “merecedores” da cura por serem judeus cumpridores da Lei.

Já o samaritano era, aos olhos dos judeus, considerado impuro, herético, idólatra. Alguém “fora do padrão”. Interessante que Jesus insiste em apresentar os samaritanos como protagonistas de uma fidelidade superior à de Israel, o povo escolhido, num claro sinal de que não são as nossas obras que nos salvam, nem a nossa pertença apenas nominal à Igreja, mas a nossa fé.

Naturalmente, a fé produz as obras – como produziu, aqui, o gesto de gratidão do leproso samaritano e do sírio Naaman, também curado da lepra e também estrangeiro (1ª leitura). Fé sem obras não existe. O que Jesus quer dizer é que as obras não têm valor sem a fé… e, às vezes, até impedem a fé, quando nos levam ao orgulho e à confiança excessiva em nós mesmos. As obras que nos salvam são sempre uma resposta de fé às maravilhas que Deus, gratuitamente, realiza por nós.

O milagre é uma antecipação do Reino, um sinal e um penhor da ressurreição, da vida plenamente restaurada na eternidade – isto é, da salvação que Jesus nos traz. Mas, para viver com ele, é preciso morrer com ele… (2ª leitura). Por isso, também, o sírio Naaman precisou humilhar-se primeiro (obedecendo à ordem, para ele incompreensível, de lavar-se no Jordão sete vezes), para só então ser curado.

Muito mais do que dar-nos uma lição de boas maneiras, as leituras de hoje querem ser um convite a superarmos a mentalidade utilitarista e egocêntrica e a compreendermos que a atitude fundamental do cristão é a ação de graças ao Deus a quem tudo devemos. Nossa ação de graças (= eucaristia) não deve ser condicionada aos favores recebidos, mas brota da consciência de que somos salvos gratuitamente.

Margarida Hulshof | Paróquia Divino Espírito Santo – Holambra

Texto integrante do folheto ‘DEUS CONOSCO | A PALAVRA ILUMINA – DIOCESE DE AMPARO’ (09.10.16 – 28º Domingo Comum)

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