Quando anunciamos que o tempo do Natal se aproxima, não nos referimos apenas ao fato de que em breve alcançaremos o dia 25 de dezembro na contagem dos dias do corrente ano, mas queremos dizer que uma época especial está próxima. Em grego, há duas palavras para designar o tempo: enquanto “chronos” refere-se ao tempo cronológico, socialmente estabelecido, isto é, a mera passagem dos dias e das horas, “kairós” refere-se a uma experiência temporal peculiar na qual percebemos o momento oportuno em relação a um determinado fato; não reflete o passado, ou antecede o futuro. Kairós é o melhor instante no presente. Ele representa um tempo não absoluto, contínuo ou linear. O termo Kairós na teologia cristã passou a ser descrito também como sendo o “tempo de Deus”.
É a este último sentido que podemos remeter o anúncio do “tempo do Natal”, isto é, o anúncio de um “kairós”, um tempo singular no qual aguardamos a chegada do menino Jesus.
Para entendermos melhor o significado do “kairós”, podemos lembrar um pequeno trecho da famosa história d’O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, quando a certa altura a raposa diz ao principezinho: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração… É preciso ritos […] O que é um rito? É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas”.
Essa pequena passagem nos mostra como o “kairós” enriquece a nossa experiência com o tempo, ao dar um sentido à mera passagem dos dias, permitindo que, de alguma forma, possamos transcender à monótona, repetida e incessante sucessão do tempo cronometrado, “chronos”. A raposa expressa muito bem este sentido, ao falar sobre a relação entre o tempo e a alegria: a alegria da espera, ligada ao futuro; a alegria da presença, ligada ao presente; e a alegria do passado, que é uma recordação alegre de algo bom e bonito.
Para nós, o Advento é este tempo especial, oportuno, em que nos preparamos para experimentarmos toda a alegria do Natal, da presença do Menino Jesus entre nós e da lembrança do mistério da salvação. A festa já existe na alegria de quem está preparando, de quem está esperando por ela: “Alegrai-vos sempre no senhor! De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está próximo” (Fil. 4, 4).
Neste Advento, deixemos os compromissos e a agenda do dia a dia que nos prendem ao “chronos”, para fazermos a profunda experiência do “kairós”, deste tempo de alegria que brota do centro da nossa Fé, da grande Esperança nascida do anúncio da Boa Nova, como se a ouvíssemos pela primeira vez, deixando-nos tomar por ela: O Verbo de Deus se fez carne, o próprio Amor se fez um de nós e nada mais nos separará do Amor de Deus!
João Marcelo Sarkis – Pastoral Vocacional da Diocese de Amparo
Artigo Publicado no Informativo O Paráclito Ed 15, Dez 2018
Paróquia Divino Espírito Santo Holambra