Tanto o fariseu quanto o publicano foram ao templo para orar. Mas, que diferença na oração de um e de outro!
Nestes nossos tempos de excessiva familiaridade, em que nos orgulhamos de tratar Deus como amigo, mas nos esquecemos do respeito devido à sua autoridade paterna, é significativo ver Jesus elogiar um homem que se mantinha “à distância”…
É importante não esquecer que entre a criatura pecadora e o Deus três vezes santo há um grande abismo, que é justamente o nosso pecado. A Igreja sabe disso, e por isso mesmo inicia todas as suas celebrações por um Ato Penitencial! A humildade, a consciência de nossa miséria é a ponte que nos permite transpor o abismo do pecado e encontrar a misericórdia.
O fariseu faz uma oração de ação de graças a Deus. Mas só aparentemente, pois, na realidade, sua oração é um pretexto para louvar-se a si mesmo e não a Deus. Ele se considera justificado por suas boas obras e pensa ter o direito de julgar e condenar o publicano. Este, ao contrário, está “na verdade”, consciente de sua culpa e de não ter méritos diante de Deus.
Jesus não nega os pecados do publicano, nem as boas obras do fariseu. Mas a vaidade do fariseu anulou o valor de suas obras, e a humildade do publicano abriu nele espaço para o arrependimento que atraiu a misericórdia de Deus. “O Senhor está perto dos corações contritos” e “a oração do humilde alcança misericórdia”, diz o Salmo.
Se queremos receber a salvação, a primeira coisa a fazer é reconhecer-nos pecadores, impotentes para salvar a nós mesmos, e, por isso, abrir-nos à ação de Deus.
É o que faz Paulo na 2ª leitura: sem deixar de reconhecer as boas obras que realizou e a recompensa que o aguarda, sabe, contudo, que tudo deve à bondade de Deus que lhe deu força e o libertou do mal. Sabendo que nada merece por si mesmo, não pensa em condenar seus acusadores, mas, ao contrário, pede que Deus os perdoe! Essa ausência de egoísmo e essa capacidade de perdoar e de amar são o melhor indicador da diferença entre uma verdadeira ação de graças e a atitude farisaica de quem, cheio de si, apresenta a Deus uma fatura por serviços prestados!
Hoje, a autossuficiência farisaica não se manifesta na observância de uma lei, mas na ilusória convicção de que o homem pode salvar-se sozinho, mediante a ciência, a política, a arte… O que Deus busca, ao contrário, são corações humildes que, nada esperando de si mesmos, suplicam por misericórdia!
Margarida Hulshof | Paróquia Divino Espírito Santo – Holambra
Texto integrante do folheto ‘DEUS CONOSCO | A PALAVRA ILUMINA – DIOCESE DE AMPARO’ (23.10.16 – 30º Domingo Comum)