Artigos de Liturgia, n. 19; Abril de 2017
Diácono Rafael Spagiari Giron
Assessor da Pastoral Litúrgica Diocesana
Queridos irmãos e irmãs, filhos amados de Deus!
A vida de um jovem é repleta de esperanças e sonhos. É na juventude que somos chamados a dar passos decisivos que refletirão na vida futura. A Celebração da Crisma acontece, justamente, neste período do “momento decisivo”: é necessário decidir-se por seguir Jesus mais de perto; por lutar pela construção do Reino de Deus. No entanto, o jovem, ou qualquer pessoa, não consegue realizar o projeto de Deus por suas próprias forças; é aqui que contamos com a ação do Espírito Santo, doador e intensificador dos dons e carismas.
A Celebração da Crisma pode também ser chamada de “Confirmação” do Batismo. Quando recém nascidos, foram nossos pais e padrinhos que nos apresentaram a Jesus, e agora, com o Sacramento da Crisma, cada um é chamado a decidir, por si mesmo, a continuidade e o compromisso na fé. Nos textos bíblicos encontramos diversas passagens que remetem ao Sacramento da Crisma; são elas: Jo 14, 25-26; Lc 12, 12; At 8, 14-17; At 19, 1-6 e 2 Cor 1, 21-22.
A Igreja possui um rito próprio para a Celebração do Sacramento da Crisma. Neste rito, usa-se paramentos na cor vermelha, cor que nos remete às “línguas de fogo” (presença do Espírito Santo em Pentecostes). A matéria sacramental é o óleo do Crisma (consagrado na quinta-feira Santa na igreja Catedral pelo bispo e padres). Também há uma fórmula própria, pronunciada pelo bispo durante a unção na fronte da pessoa: “(N.) recebe por este sinal o Espírito Santo, dom de Deus”.
A primeira característica do rito é que se trata de uma unção. Isso nos remete ao simbolismo bíblico. No Antigo Testamento, a unção era o rito pelo qual os sacerdotes e os reis eram consagrados. Ela constituía um sacramento pelo qual o Espírito Santo lhes era comunicado em vista das funções que deveriam realizar. Nos profetas encontramos a unção relacionada ao messianismo (eles anunciam que, na plenitude dos tempos, virá o “Ungido”, um Messias, um Christos, do qual o rei Davi e o sumo sacerdote eram apenas figuras). Essa unção chama-se chrisma em grego, e quem a recebe é chamado de christos, ungido. O batizado, com a unção do crisma se torna então um christianos (cristão).
Esse óleo que nós chamamos de “crisma” compõe-se de uma mistura de azeite com bálsamo. O que o distingue do óleo dos catecúmenos é justamente esse aroma. É esse perfume que constitui o essencial do símbolo. Representa, para nós, o “bom odor de Cristo”. De um lado encontramos o perfume divino, considerado como o reflexo da divindade. De outro lado, encontramos uma doutrina baseada na percepção das coisas espirituais representadas pelos sentidos humanos e, em particular, o olfato.
O Rito da Confirmação é composto das seguintes partes:
– Apresentação dos Crismandos: os Crismandos são apresentados ao bispo;
– Apresentação dos Padrinhos: os padrinhos e madrinhas são apresentados ao bispo;
– Renovação das Promessas Batismais: Os que irão receber o sacramento da Crisma renovam as promessas que um dia (se foram batizados crianças) seus pais e padrinhos fizeram em seu nome. Para isso, seguram uma vela acesa (símbolo da Luz de Cristo). A renovação é feita por meio de um diálogo com o ministro do sacramento. São três perguntas que se referem à Renúncia à Satanás e quatro perguntas que se referem à Profissão de Fé.
– Oração de Invocação do Espírito Santo: essa oração é pronunciada pelo bispo. Se houver padres presentes na celebração eles também estendem a mão sobre os crismandos, como sinal do envio do Espírito. O estender a mão também faz referência às mãos ungidas do sacerdote (com o mesmo óleo) no momento de sua ordenação presbiteral. Também faz referência à transmissão do poder de Deus (Ex 14, 3; Mc 10, 16; Mt 9, 18).
– Unção com o óleo do Crisma: o bispo traça, sobre a testa, o sinal da Cruz com o óleo consagrado na quinta-feira santa, na missa do Crisma, na Catedral Diocesana.
– Abraço da Paz: após a unção, o bispo deseja a paz aos que receberam a Unção. Essa Paz é a Paz de Cristo. Mesmo em meio às tantas dificuldades que vivenciarão no mundo, poderão olhar para Jesus e contar com a força do Espírito Santo.
Após uma boa preparação e a passagem por esse rito, podemos dizer que a pessoa se torna “adulta na fé”. Todos os crismados são chamados a ser apóstolos, isto é, a manifestar às demais pessoas essa fé que possuem, por meio dos dons do Espírito Santo que receberam na Crisma e que os capacitam para essa missão de anúncio do Reino de Deus.
No próximo artigo iremos refletir e conferir o rito do Sacramento da Confissão. Por hora, fica o convite para “darmos espaço” e resgatarmos o Espírito Santo que habita em nós, recebido pelo Batismo e confirmado pela Crisma. Boa experiência de fé!
Para ler o artigo n. 18 clique aqui: SACRAMENTO DA EUCARISTIA