Há uma canção que marcou a minha história e, pela sua beleza e profundidade, escolhi-a para a minha ordenação diaconal e as primeiras missas. Em um de seus trechos, ela diz: “Quando comecei a andar seus passos, eu jamais imaginava, seguir por tais caminhos. Aos poucos, nosso amor criou seus laços. Seduziste-me, Senhor, me encheste de carinho…”. Parece que, sem querer – ou por providência divina – ela veio a tornar-se a trilha sonora de minha história com Deus.
Eu disse “sim”, e vi caminhos se abrindo diante de mim. Caminhos e carinhos! Como negar um pedido Daquele que me concedeu, por suas próprias mãos, a felicidade? Se eu dissesse não, estaria traindo o lema de minha ordenação presbiteral: “Permanecei no meu amor” (Jo 15,9). Permanecer no seu amor é estar onde estão os seus divinos apelos. Quem sente o amor de Deus em si, transborda em amor e entende que amor guardado, é amor perdido.
A experiência de uma semana feita em terras amazônicas cravou em mim uma inquietação que não permitiu que meu coração descansasse enquanto não respondesse. Eu voltei para Serra Negra, mas meu coração ficou em São Gabriel da Cachoeira. Agora, estou levando o meu corpo ao encontro do meu coração. Isso não quer dizer que não ame meus serranos queridos, mas eu sei que eles estão em boas mãos, que tem quem deles cuide e que não precisam de mim. Foram eles mesmos que me ensinaram a sair de mim. Só estou colocando em prática aquilo que eles me ensinaram em dois anos.
Sou grato a Deus por ser chamado a uma terra onde muita gente encontra justificativas para não ir. Ser escolhido para servi-Lo na Amazônia é mais que um presente. É uma honra! Seguir a Jesus Cristo, implica ocupar os últimos lugares. Como posso dizer que o sigo, se prefiro os primeiros lugares. Faço das palavras de Santa Teresinha, as minhas: “Quero os últimos lugares, porque ninguém os quer”. Não me sinto melhor do que ninguém por ir, mas me sinto muito querido por Deus por ser escolhido para ir.
Gratidão também aos meus pais. Foram eles que me ensinaram a amar a Deus nos pobres. Dentre as lembranças mais marcantes da minha infância, estão os episódios mensais de quando entregavam uma sacola plástica a minha irmã e a mim, a fim de que recolhêssemos os alimentos para os vicentinos, entre os vizinhos. Neste convite de Deus e consequente decisão minha, há muito do que aprendi com eles. Sem querer, já me prepararam para este momento!
Não estou indo para longe! Se o Planeta Terra é a casa comum, estou apenas trocando de cômodo. Continuamos na mesma casa, embora, em cômodos diferentes. É com devoção que piso o sagrado solo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira-AM, onde santos missionários pisaram antes de mim e fizeram uma profunda experiência de um Deus Misericordioso, que habita entre os índios e que nos espera ansioso para um intimo e revolucionário encontro. Não deixo nada para trás, porque toda experiência de amor vivida nesta minha amada Diocese, dilatou suficientemente o meu coração para que eu levasse todos comigo. Maior do que a saudade, é a certeza de que, em breve, nos reencontraremos fisicamente, porque, espiritualmente, nos sentaremos sempre a mesma mesa da Eucaristia para onde convergem todas as vidas que amam e buscam o Senhor.
Padre André Ricardo Panassolo – Vigário paroquial
Paróquia Nossa Senhora do Rosário/Serra Negra
Texto integrante do Informativo bimestral O AMPARO, da Diocese de Amparo | ed. nº 8
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