Pentecostes, na fé católica, é a celebração da vinda do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, no Cenáculo, onde estes se achavam escondidos e amedrontados, mas unidos em oração, após a terrível morte de Cristo na Cruz.
Aqui, caríssimo(a) irmão(ã), há alguns pontos que já merecem destaque, pois, de certo modo, contrapõem a nossa lógica, importante, sem dúvida, mas falha algumas vezes, e a de Deus, infalível por excelência. Ela aparece em torno do fato de estarem a Virgem Maria e os Apóstolos, como foi dito, reunidos em um só lugar.
Ora, pela lógica humana o fato em si parece absurdo. Sim, um grupo quer guardar e viver o ensinamento do Mestre, morto e ressuscitado, a fim de poder divulgá-lo ao mundo, mas tem medo e, por isso, se junta em um mesmo local. Péssima tática. Se alguém quisesse, invadiria o Cenáculo e acabaria com todos.
Não seria mais inteligente formarem grupos menores em vários locais? Ao menos salvariam a mensagem a ser transmitida de viva voz e, depois, registrada por escrito, sobretudo nos Evangelhos.
A resposta para tal atitude, irmão e irmã, está na ação divina sempre operante na vida de quem o segue. Os discípulos tinham recebido de Jesus a ordem de “permanecer em Jerusalém até serem revestidos da força do alto” ou “batizados com o Espírito Santo” (Lc 24,49; At 1,4). Como era um grupo pequeno, era natural que buscassem permanecer unidos. Tratava-se de um grupo que tinha, sim, medo dos judeus (cf. Jo 20,19), mas também se confiava a Deus por meio de intensa oração em comunidade (cf. At 1,14). Eis dois pontos importantes na Igreja: oração e comunhão fraterna. Tão importantes que é nesse contexto que ocorre o Pentecostes.
São dois os grandes relatos: em Jo 20,22, o Senhor Jesus, no Domingo, aparece entre os Apóstolos, em corpo glorioso, e, depois de saudá-los e enviá-los, sopra sobre eles e diz: “Recebei o Espírito Santo”; em At 2,1-4, muito mais cheio de simbolismos, o Espírito de Deus pousa em cada um e realiza uma grande transformação: de covardes, tonam-se destemidos pregadores diante do povo que estava em Jerusalém.
E não só nesse dia, mas em toda a história que se sucede. Basta ler – e a Igreja faz isso durante todo o tempo pascal – o livro dos Atos dos Apóstolos para se ter uma clara ideia de quanto o Espírito de Deus age (conversões em massa, fundação de comunidades, a vinda de Saulo (Paulo) para a Igreja, as missões etc.), de modo que o livro dos Atos é também conhecido como “o Evangelho do Espírito Santo”, pois descreve, muito vivamente, Sua ação na comunidade nascente.
Comentamos tudo isso a fim de tentar deixar mais claro aquilo que a Igreja sempre ensinou como mistério de fé (o maior, aliás): há um só Deus em três Pessoas realmente distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. As três agem sempre juntas, mas, para facilitar a catequese e a compreensão, surgiu o costume de fazer o que os estudiosos chamam de apropriação, ou seja, atribuir ações específicas a cada uma das pessoas divinas, segundo o que melhor as caracteriza. Assim, fala-se no Pai como criador, no Filho como salvador e no Espírito como santificador.
Peçamos, portanto, irmão e irmã, a cada dia e momento de nossa vida: “Vem Espírito Santo… vem santificar a nós e às nossas comunidades. Amém”.
Ir. Vanderlei de Lima é eremita na Diocese de Amparo