OS LIVROS E RITUAIS LITÚRGICOS

Artigos de Liturgia, n. 9; Outubro de 2016

Seminarista Rafael Spagiari Giron
Assessor da Pastoral Litúrgica Diocesana

Queridos irmãos e irmãs, filhos amados de Deus!

           Vimos no artigo anterior que a liturgia passou por adaptações advindas do Concílio Vaticano II e que, dentre elas, houve a tradução e reorganização dos ritos e rituais de acordo com a cultura e língua de cada região do mundo. Pois bem, todas as celebrações litúrgicas possuem um esquema que segue determinada ordem; esse esquema garante a unidade celebrativa de nossa fé. De modo geral, esse esquema recebe o nome de Rito litúrgico e está descrito naquilo que chamamos de Ritual ou Livro Litúrgico (livro com as orientações e orações das celebrações).

           Na história da Liturgia, depois do período de criatividade por parte dos bispos ou comunidades (primeiros séculos da Igreja), chegou-se, mais ou menos a partir do século VI, à etapa de recompilação e fixação dos livros litúrgicos, que, no Rito Romano, são chamados de: Sacramentário (livro do presidente, com as orações que deve dizer); Lecionário (leituras da Sagrada Escritura selecionadas para as celebrações); Evangeliário (contém somente os Evangelhos); Antifonário (pequenas introduções ao Mistério celebrado); Pontifical (com os ritos de celebrações reservadas ao bispo). Mais tarde, chegou-se aos livros “mistos” ou “plenários”. São eles: o Missal do Papa Pio V (1570); e o Breviário (a Liturgia das Horas, oração diária da Igreja).

           Depois da Reforma do Vaticano II, renovaram-se totalmente esses livros. Com isso, enriqueceram-se muito as celebrações com a variedade e a linguagem dos seus textos e também com as motivações teológicas e pastorais. Abaixo segue uma relação dos principais livros litúrgicos: Missal, em dois volumes (Dominical e Ferial) – Papa Paulo VI (1969); Livro das Orações; Lecionários I, II, III e IV; Liturgia das Horas, em quatro volumes, e o volume da edição abreviada, sem as leituras do ofício (o que ajudou os leigos a rezarem como Igreja); Pontifical Romano, com celebrações próprias do Bispo, composto de diversos volumes: Ordenações, Confirmação, Dedicação da Igreja e do Altar, Cerimonial dos Bispos, Instituição de Leitores e Acólitos, Bênção de Abades e Abadessas, Bênção dos óleos e Consagração do Crisma; Ritual dos Sacramentos e sacramentais: Iniciação Cristã dos Adultos, Batismo, Matrimônio, Unção dos Enfermos, Penitência, Exéquias, Profissão Religiosa, Culto Eucarístico, Cerimonial das Bênçãos e Celebração dos Exorcismos; Bênçãos diversas (mesa, objetos, imagens…); e o Gradual (onde se tem músicas litúrgicas).

Vejamos, abaixo, uma descrição mais detalhada dos principais e mais utilizados livros litúrgicos:

Lecionário Dominical (I): usado nos domingos e nas festas litúrgicas que podem ser celebradas no domingo (por ex: Transfiguração do Senhor, Assunção de Nossa Senhora, Nossa Senhora Aparecida, etc.), bem como durante todo o Tríduo Pascal (Quinta, Sexta e Sábado Santo). É subdividido nos 3 anos litúrgicos da Igreja (A, B e C – que nos remetem aos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas).

Lecionário Semanal (II): usado nas missas de dias de semana, de todo o ano litúrgico, exceto para as festas, solenidades e memórias de santos que têm leituras próprias. A 1ª leitura e o salmo responsorial durante a semana, no Tempo Comum, são divididos em “ano par” e “ano ímpar”.

Lecionário Santoral (III): diversas necessidades e votivas: usado quando há celebrações de santos, festas, algumas solenidades, quando se quer celebrar uma “missa votiva” em alguma intenção especial, ou ainda para celebrar missas com textos que falem de um determinado aspecto da vida espiritual.

Lecionário do Pontifical Romano (IV): usado nas celebrações de Crisma, ordenações, profissões religiosas, dedicação de igrejas ou altares, consagração das virgens, instituição de Leitores e Acólitos e bênção de abades e abadessas.

Evangeliário: é o livro que contém somente os Evangelhos para as missas e somente para missas dominicais e algumas festas e solenidades. Como o Evangelho é o auge da Liturgia da Palavra, o Evangeliário é um livro maior, com folhas mais grossas e letras maiores, e é mais “enfeitado” que o Lecionário, justamente para ressaltar a importância do Evangelho na vida dos cristãos.

Pontifical Romano: é o livro que contém as orações para os rituais a que somente o Bispo pode presidir, como a Crisma, ordenação de Bispos, Padres e Diáconos, dedicação de igreja e altar, profissões religiosas, consagração das virgens, instituição de Leitor e Acólito e bênção de abade e abadessa (estes dois últimos são os superiores dos mosteiros).

Rituais em geral: são os livros que trazem as celebrações de alguns sacramentos e sacramentais e outras celebrações que podem ser feitas também fora da Missa.

Ritual da Iniciação Cristã: contém todos os passos e orações para a acolhida dos catecúmenos (os que se preparam para receber os sacramentos da iniciação cristã).

Ritual do Batismo: traz as orações para serem feitas para uma celebração de Batismo, tanto de crianças quanto de adultos.

Ritual do Matrimônio: traz as orações a serem feitas na celebração de um casamento, tanto dentro como fora da missa.

Ritual da Unção dos Enfermos e sua assistência pastoral: traz as orações a serem feitas para a administração do sacramento da Unção dos Enfermos e outras orientações quando da visita a um doente pelo sacerdote.

Ritual da Penitência: traz algumas opções para celebrar o sacramento da penitência, nas diversas circunstâncias.

Ritual de Bênçãos: traz fórmulas de bênçãos e celebrações de bênção de lugares, objetos, pessoas, etc.

Ritual de Exorcismos e outras práticas: traz fórmulas para orações de exorcismo ou outras relacionadas à presença do mal numa pessoa.

Cerimonial dos Bispos: apesar de não ser considerado um livro litúrgico no sentido exato da palavra, traz as indicações “padrão” para conduzir uma determinada cerimônia litúrgica, especialmente quando é o bispo quem a preside.

           Queridos irmãos e irmãs, por toda essa riqueza percebemos que nossa fé não é algo inventado por alguém ou mesmo pela Igreja, mas se refere ao próprio contato de Deus com seu povo; um povo que está sedento e que procura, sem cessar, a salvação. Que todas essas “curiosidades” acima mencionadas nos ajudem a melhor visualizar a importância de nossas celebrações e a dignidade que devemos dar a esse Mistério divino; que Deus nos ajude a celebrar bem e a viver tudo aquilo que celebramos.

Para ler o artigo n. 8 clique aqui: PARTICIPAÇÃO ATIVA E FRUTUOSA NA LITURGIA

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