Artigos de Liturgia, n. 1
Seminarista Rafael Spagiari Giron
Queridos irmãos e irmãs, filhos e filhas amados de Deus!
Iniciamos nosso trabalho de evangelização e formação do Povo de Deus apresentando quinzenalmente, aqui no site da Diocese de Amparo, um pouco sobre Liturgia. Nada mais proveitoso, acredito eu, do que iniciarmos nossa reflexão partindo da Celebração Eucarística, a missa, da qual participamos todos os finais de semana nas diversas paróquias e cidades de nossa Diocese.
Quando nos deparamos com os ritos (falas, ações e gestos que repetimos em cada celebração) podemos nos perguntar: Qual seria a origem e o sentido desses ritos? O que cada um deles representa dentro da Celebração? Por que às vezes eles, aparentemente, se repetem? Todos esses questionamentos são bem vindos porque nos ajudam a melhor compreender e celebrar a nossa fé. Aos poucos iremos respondendo a cada um deles.
De início é importante termos em mente que a Celebração Eucarística, como hoje conhecemos, foi sendo elaborada aos poucos, no decorrer dos séculos. Seus fundamentos estão na pessoa de Jesus Cristo e dos Apóstolos e primeiros cristãos, que experimentaram a fé no Senhor Ressuscitado e obedeceram à sua ordem de renovar, em sua memória, a oferta do sacrifício pascal de seu Corpo e Sangue (“Fazei isto em minha memória” – Lc 22, 19). No decorrer dos anos, foram-se incorporando novos gestos, palavras e ações que recordavam os ensinamentos de Jesus. O primeiro nome dado à Eucaristia, enquanto celebração, era “fração do pão”. No início do Cristianismo, como registram os Atos dos Apóstolos, os cristãos partiam o pão nas casas, fazendo suas refeições com alegria e simplicidade de coração (cf. At 2,42ss). Chamavam essa refeição de Fração do Pão. Em algumas circunstâncias dizia-se também Ceia do Senhor. O apóstolo Paulo também a chama de mesa do Senhor, cálice do Senhor. Só no final do século I e início do século II, como registra a Didaché (catecismo dos primeiros cristãos), a celebração da Ceia passará a se chamar Eucaristia, que significa “Ação de Graças”.
Como vimos, a Eucaristia tem sua origem na última Ceia de Jesus com seus discípulos, quando se reuniram para a celebração da Páscoa judaica. Jesus e os discípulos celebraram à maneira judaica. Por isso, Jesus utiliza o pão ázimo (sem fermento) e o vinho, elementos essenciais da ceia judaica. Os discípulos continuaram, por algum tempo, participando também do templo e do modo de rezar dos judeus. Só mais tarde os apóstolos e os primeiros cristãos foram, aos poucos, se desligando do judaísmo e elaborando, por assim dizer, o modo cristão de celebrar. Nesta nova forma de celebrar a fé, os primeiros cristãos recordavam os quatros gestos fundamentais que Jesus realizou na última Ceia: Tomar o Pão (Jesus toma o pão em suas mãos – hoje o padre toma o pão em suas mãos no momento da preparação das oferendas); Dar graças (Jesus dá graças ao Pai – hoje o padre realiza a Oração Eucarística da missa que é uma ação de graças a Deus Pai); Partir o Pão (Jesus parte o pão para distribuir – hoje o padre, durante a missa, faz esse partir do pão no rito da Fração do Pão, durante o qual a assembleia reza o “Cordeiro de Deus”); e, por fim, Distribuir entre eles (Jesus distribui o pão aos discípulos – hoje o padre distribuiu o Pão aos fiéis no momento da comunhão).
Por meio desses gestos acima citados, e também da assembleia reunida, os cristãos celebram a fé de forma participativa e consciente. Recordam e revivem tudo o que aconteceu com Jesus. Assim, através do mandato de Jesus aos seus discípulos na última Ceia, “fazei isto em memória de mim”, os cristãos realizam uma ação memorial, ou seja, uma ação que atualiza a ação de Jesus (sua entrega na cruz). Por isso, não recordamos somente algo acontecido há dois mil anos atrás, mas atualizamos e revivemos o mesmo sacrifício que Cristo realizou (na ceia e na cruz). Assim, a Ceia judaica que Jesus realizou ganha todo o seu sentido com a entrega de Jesus na cruz. Agora o pão não é mais pão, mas é Corpo de Cristo e o vinho não é mais vinho, mas Sangue de Cristo, porque assim Jesus o afirmou. Por esta forma ele quis estar sempre presente no meio dos seus.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) enfatizou a importância da presença de Cristo, não apenas na forma real e substancial de presença nas espécies eucarísticas, mas também na vida da comunidade. Cristo estaria realmente presente também na assembleia reunida, na pessoa do presidente e na Palavra proclamada. Sendo assim, o Senhor, nosso Salvador, torna-se novamente o Emmanuel (Deus conosco) que, através das ações litúrgicas, se torna novamente presente no meio dos seus.
Portanto, celebrar a Eucaristia é celebrar nossa fé no Mistério Pascal de Jesus Cristo (Paixão, Morte e Ressurreição) e, ao mesmo tempo, é tornar Cristo presente e atuante em nosso meio; é converter nosso coração a Ele de modo que nossas atitudes diárias sejam transformadas na constante prática da caridade; também é esperarmos pela nova vinda do Senhor. Por isso, hoje, celebrando a Eucaristia, podemos dizer: “Todas as vezes que comemos deste Pão e bebemos deste vinho anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda”.
No próximo artigo, adentraremos nesse grande mistério de Amor e serviço que é a Eucaristia, percebendo o quanto cada rito, presente nela, tem seu significado específico para dar sustento e alegria à nossa fé.
Para ler o artigo n.2 clique aqui: CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA – RITOS INICIAIS