A liturgia de hoje me faz lembrar o que ouvi certa vez: “A religião católica é muito cômoda, pois posso pecar à vontade, bastando que peça perdão antes de morrer…”
Quem assim fala não entendeu nada. Não que não seja verdade, pois de fato isso basta. Mas é um engano pensar que tal atitude seja simples e fácil… Primeiro, quem garante que haverá tempo para isso? Dificilmente podemos prever o momento de nossa morte, para que possamos nos preparar para ela. E, além disso, “pedir perdão” da boca para fora (o que já é difícil) não engana Jesus. O que nos salva é um arrependimento verdadeiro, e este não é nada fácil – pode ser mesmo quase impossível, sem o auxílio da graça, para quem passou a vida toda negando a Deus e rejeitando o seu amor.
Se esse “pedido de perdão” for visto como mais um ato de egoísmo e esperteza, a fim de nos livrar da pena eterna que nossa vida mereceu, nada feito… pois Deus não se deixa enganar. Ele está sempre pronto a perdoar, sim, mas esse perdão só pode nos beneficiar quando, a exemplo do filho pródigo, temos a coragem e a humildade de voltar atrás, mudar radicalmente a direção de nossa vida, ajustando o rumo na direção da casa do Pai, reconhecendo sinceramente que erramos e nos dispondo a sofrer as consequências disso…
Sim, o Pastor vai em busca da ovelha perdida, e não deixa nunca de procurá-la até encontrá-la. Ele não rejeita os pecadores porque veio justamente para eles, e, portanto, a consciência de nossas fraquezas não nos deve desencorajar. Afinal, o amor de Deus é dom gratuito, não é conquistado por nossos méritos. Apesar de nossas idolatrias e traições, ele nunca desiste de nós. Mas não nos tira a liberdade, nem nos salva sem a nossa permissão, sem o nosso desejo de ser salvo. Esse “cair em si” e essa conversão (mudança de vida) são simbolizadas pelo caminho de regresso que o filho pródigo teve a coragem de percorrer, mesmo fraco e sem dinheiro (e sem poder, portanto, viajar na primeira classe como antes), até chegar de volta ao Pai. Deus não liga para as nossas mãos vazias, mas exige de nós o desejo de voltar e a perseverança de não desistir.
A chave da salvação é o arrependimento sincero, e também a humildade, sem a qual nos julgamos melhores que os outros. Moisés demonstrou essa humildade, que faltou ao irmão mais velho… e falta tantas vezes aos que se julgam “certinhos” e não enxergam o pecado do orgulho que trazem em si. Saber perdoar é condição para viver o amor!
Margarida Hulshof
Texto integrante do folheto ‘DEUS CONOSCO | A PALAVRA ILUMINA – DIOCESE DE AMPARO’ (11.09.16 – 24º Domingo Comum)