No meio de um banquete – ambiente exclusivamente masculino na Palestina romana – uma mulher de má reputação invade o recinto e se põe atrás de Jesus, que estava reclinado no pequeno sofá, pois assim ficavam os convivas, apoiados no cotovelo esquerdo, enquanto se serviam com a mão direita, na mesa em formato de “U”. Ela lava com suas lágrimas os pés de Jesus e enxuga-os com os cabelos – o que era também algo impensável, pois a mulher da Palestina mantinha sempre os cabelos presos sob o véu, e só os soltava para o marido, na intimidade da alcova –, além de ungi-los com um perfume precioso.
Na tradição judaica, se o impuro toca alguém, transfere a este a sua impureza. Por isso o anfitrião, o fariseu Simão, se escandaliza, e começa a duvidar de que Jesus seja mesmo um profeta, enviado de Deus. Caso contrário, saberia que tipo de mulher o está tocando…
Mas Jesus, que lê seus pensamentos, mostra-lhe o quanto havia falhado em seus deveres de hospitalidade, deixando de proporcionar a Jesus justamente os gestos de acolhida agora “compensados” pela mulher.
O amor é, ao mesmo tempo, consequência e causa do perdão… O fariseu, que se julgava justo, não sentia necessidade de perdão, e, por isso, fechava seu coração ao amor.
Esse é o risco dos “honestos”, dos “cumpridores da lei”: tão prontos a julgar e condenar os outros, mas tão lentos em perceber que também precisam de perdão! Se reconhecessem os seus pecados e a insuficiência das “obras da Lei” (2ª leitura), seriam mais abertos à graça que gera o amor…
O que nos salva, o que nos torna pessoas “segundo o coração de Deus” (como o rei Davi), não é a nossa perfeição pessoal, mas a humildade, a capacidade de nos reconhecer pecadores, e por isso pedir e aceitar o perdão de Deus que nos renova. O sacramento da reconciliação foi um gesto de amor da parte de Jesus, que se alegra em nos perdoar.
As “obras da lei” não justificam o homem, não porque a lei seja ruim, mas porque ela nos torna cegos, leva-nos a confiar em nós e não em Deus. A nossa tendência a fugir do sacramento da reconciliação deveria fazer-nos pensar… Estaremos recusando o perdão de Deus que nos abre ao amor?
Antonio Carlos Santini
Texto integrante do folheto ‘DEUS CONOSCO | A PALAVRA ILUMINA – DIOCESE DE AMPARO’ (12.06.16 – 11º Domingo Comum)