Com frequência, quando as pessoas cobram da Igreja uma maior “abertura” ou tolerância para com as limitações humanas, apoiam-se no argumento de que Jesus comia com os pecadores e não os evitava. De fato, ele “veio procurar e salvar o que estava perdido”, e, como médico, não veio para os sadios, mas para os doentes, que somos todos nós. Ricos ou pobres em bens deste mundo, somos todos necessitados da misericórdia de Deus!
Mas quem assim invoca a “tolerância” de Jesus, não percebe que ela nunca significa aprovação do pecado. Jesus se aproxima dos pecadores para curá-los e salvá-los, e nunca lhes diz para permanecerem em sua atitude de pecado, não deixando de censurá-los quando o fazem (como os fariseus).
Deus ama a todos igualmente (1ª leitura), mas, para que esse amor nos transforme, são necessários certos pré-requisitos. Domingo passado vimos a exigência da humildade; hoje, vemos que a simples curiosidade pode bastar, se for forte o bastante para traduzir-se em gestos concretos: Zaqueu “procurava ver quem era Jesus”, e seu desejo foi suficientemente forte para movê-lo à iniciativa de correr na frente e subir em uma árvore. Isso bastou para que a salvação entrasse em sua casa e em seu coração.
E quando a salvação entra, sempre transforma. Quem se encontra de verdade com Jesus nunca permanece a mesma pessoa. É por isso que a Igreja, mesmo acolhendo a todos com amor, não pode fazer “vista grossa” para o pecado, como se ele não fosse um mal de que precisamos ser curados, uma escravidão de que precisamos ser libertados.
E essa libertação não se limita ao arrependimento, mas exige a reparação do mal causado. É esse o sentido da “penitência” que recebemos depois que nossos pecados são perdoados no sacramento da confissão. Se roubei, devo restituir com juros; se caluniei, não basta pedir desculpas, mas é preciso limpar o nome que manchei, e não como os órgãos de imprensa, que lançam lama sobre a reputação de pessoas inocentes nas manchetes da primeira página, e depois, quando se trata de reparar o erro, limitam-se a um “erramos” em letras miúdas escondido no meio do jornal…
A reparação é o sinal que comprova o verdadeiro arrependimento. Que a nossa fé seja ativa, e que nos ocupemos em fazer o bem enquanto esperamos pelo dia de nos reunir novamente com o Senhor (2ª leitura), ao invés de nos preocuparmos com previsões de datas que em nada nos ajudam na conquista da salvação…
Margarida Hulshof | Paróquia Divino Espírito Santo – Holambra
Texto integrante do folheto ‘DEUS CONOSCO | A PALAVRA ILUMINA – DIOCESE DE AMPARO’ (30.10.16 – 31º Domingo Comum)