Está será uma tentativa de abordar, de maneira muito sucinta, o surgimento das Novas Comunidades, bem como o seu valor para a Igreja e para a sociedade!
Tendo em vista que em nossa Diocese tais riquezas têm surgido nos últimos anos, gostaria de levar ao conhecimento dos fiéis, com alguns artigos, um pouquinho de nossa realidade!
“Os movimentos e as Novas Comunidades são a resposta, suscitada pelo Espírito, a este dramático desafio no final do milênio. Vós sois esta resposta providencial!” (Discurso de São João Paulo II aos participantes do Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais).
Um mapeamento do Universo secular e seu desencadear
Há tempos, a Igreja tem enfrentado um inimigo barulhento e perturbador, chamado “secularismo”, que é a descristianização da cultura, uma “libertação” do homem da religião e de Deus. O exemplo disso tem sido frequente, em relação à tentativa de aprovação do aborto, à falta de valores (crise axiológica), ao ateísmo, ao “tudo pode”. O pior, no entanto, ainda estava por vir, com a entrada do secularismo na própria Igreja!
Se na sociedade o homem não tem encontrado resposta na educação, na formação humana, espera-se, então, que a encontre na religião. Mas como, se o secularismo também está dentro da Igreja? Este sério problema desencadeia, em nosso tempo, o enfraquecimento da fé dentro da nossa Igreja e o pluralismo religioso, que é o surgimento de uma “igreja a cada esquina” (fragmentação da religião). A fé virou uma espécie de “self-service”, onde se escolhe a religião de acordo com aquilo que melhor apetece ao “consumidor”!
Além do pluralismo religioso, há ainda o avanço da ciência e da tecnologia que, apesar de muitos benefícios, também é grande vilã, ao individualizar o homem e relativizar a Verdade Suprema que é Deus, em muitas variações de verdades – relativismo – e, ao mesmo tempo, verdade nenhuma!
A Igreja passou a viver, com o tempo, uma “crise de credibilidade”, ou seja, para muitos não é mais a detentora da “palavra certa” na sociedade, da orientação, do conselho moral, do certo e do errado. Em contrapartida, o homem passou a desejar, mais que nunca, respostas e experiências com Deus. Isso ocorre pelo fato de não se preencher no mundo científico e/ou tecnológico.
A partir daí, surge também um mercado religioso, muito forte em nossos tempos, do consumismo e tudo o mais, onde se escolhe a religião do “bem-estar”, da prosperidade. Nada de cruz, dor ou sofrimento! O bom negócio é o do sucesso e da prosperidade imediatos! Muitos esquecem a Igreja enquanto comunidade eclesial, lugar do encontro com Deus, e passam a buscar sempre, e com ansiedade, experiências subjetivas com Deus.
Diante desta perspectiva, e como resposta que vem do alto, se encontra, por exemplo, o clima carismático! Experiência forte, marcante e que, no entanto, não se constitui de fiéis que querem fundar uma “outra igreja”, pelo contrário, constitui-se de fiéis que desejam renová-la na experiência, sem deixar de viver a sua Tradição – rito, culto, doutrina. É exatamente neste contexto de resposta que nascem os movimentos e as Novas Comunidades, como abertura ao dinamismo de Deus e à novidade do seu Espírito.
Surgimento das Novas Comunidades e sua contextualização
Deus sempre suscita o Novo em momentos de “crises” na sociedade e/ou na Igreja, e por isso, após o Concílio Vaticano II – divisor de águas, neste sentido, para maior abertura ao leigo dentro das atividades pastorais de uma igreja – o catolicismo pôde expandir seu chamado e missão através do próprio batizado, que é convocado a “participar ativamente na comunhão e na missão da Igreja”, não de maneira autônoma, mas comunitária!
O ponto de partida que promove o nascimento das Novas Comunidades, portanto, é o denominador comum da Santidade. “Nesta se inserem as específicas vocações, portanto os particulares carismas dados pelo Espírito e as diversas funções e ministérios, de modo que se entendam na sua complementaridade, para que cada um, dócil ao Espírito, realize fielmente a tarefa que lhe foi confiada por Deus!”1.
Bem, no berço da espiritualidade das Novas Comunidades se encontra a RCC (Renovação Carismática Católica), marcada pela experiência da efusão do Espírito Santo, pela espiritualidade carismática: “inicialmente forma-se um grupo de Oração, de caráter mais espiritual e espontâneo, com o objetivo principal de viver a proposta carismática do próprio movimento. Com o passar do tempo, com o amadurecimento da comunhão entre os participantes e o despertar de uma forte liderança – centrada numa ou mais pessoas –, discerne-se um chamado à constituição de uma comunidade de vida, muito semelhante ao estilo de vida comunitária das congregações religiosas, com o objetivo de cultivar mais intensamente aquela espiritualidade carismática e a própria vida cristã, tendo como protótipo as comunidades cristãs da Igreja Primitiva […], e se assume, por fim um compromisso com tal carisma emergente”2.
[1] As Novas Comunidades no contexto sociocultural contemporâneo / Wagner Ferreira. São Paulo: Canção Nova, 2012.
[2] Idem.
Lucas Lastória – fundador da Comunidade Católica Missão ATHOS2 (Diocese de Amparo)