NÃO TRAIR A PRÓPRIA LIBERDADE

Estimados amigos no Senhor, gostaria de iniciar esta reflexão a partir da carta de São Paulo aos irmãos da comunidade de Éfeso, onde ele assim expõe: “Portanto, os maridos devem amar suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher, está amando a si mesmo. Ninguém odeia a sua própria carne; pelo contrário, nutre-a e dela cuida, como Cristo faz com sua Igreja” (Ef 5, 28-30).

Vivemos momentos de grande questionamento, fala-se muito da “cultura do estupro”, da violência contra a mulher, o abuso sexual, a busca incansável do prazer a qualquer custo, alimentado pelo uso das drogas. Entre elas, inicialmente detectamos o álcool, presente em todos os lares, o qual vem maculando a dignidade de tantas pessoas, facilitando o abuso. E também provoca muitos outros inconvenientes, como a ideia da impunidade e de uma ideologia machista, com estatísticas nem sempre divulgadas ou contabilizadas junto aos órgãos competentes, justamente pelo medo e pela discriminação que muitos sofrem ao denunciar o ato. Assim, de vítimas passam a ser facilitadores do crime, como contemplamos há pouco pelos meios de comunicação.

Infelizmente essa não é uma realidade ocasional, mas  cotidiana, vivida por muitas irmãs e irmãos nossos, independente de sua idade ou classe social, mas intensificada por um mercado do sexo  e das drogas, e por uma mentalidade onde predomina  o individualismo, a indiferença à dor do outro, o consumismo, estimulando a “cultura do  descartável”,  uma valorização constante pelo corpo e não pela pessoa, por sua história, por seu nome , pois ela ou ele passa a ser “mais um” em sua lista de “conquistas”, ou, melhor dizendo, vítimas.

O Apóstolo Paulo também nos recorda em sua carta aos Gálatas: “Irmãos, vocês foram chamados para serem livres. Que esta liberdade, porém, não se torne desculpa para vocês viverem satisfazendo os instintos egoístas. Pelo contrário, disponham-se ao serviço uns dos outros através do amor” (Gl 5, 13). Diante de tal questionamento, podemos nos perguntar, seria o momento de questionar, ou de rever, de se revoltar ou de retomar valores? Sim, devemos retomar os valores do respeito para com o outro, da sobriedade, da sexualidade como fruto da experiência da corresponsabilidade e do acolhimento do outro, o próprio valor da castidade, não compreendido por muitos e julgado por outros como atraso ou castração.

A castidade nasce de uma escolha segura de um relacionar-se com o outro, do enamorar-se por primeiro pela pessoa, por seu itinerário de vida, no partilhar de uma espiritualidade marcada pela confiança e paciência, no descobrir a cada dia a pessoa do outro na luz do Senhor Jesus e com ele escrever uma nova etapa de sua caminhada vocacional, vocacionados para o amor, pois assim Deus nos criou à imagem do amor.

Por outro lado, vemos que o imediatismo rege a relação, onde o prazer traduz o quanto nós amamos, ou pensamos amar, porque o verdadeiro amor é dar-se pelo bem do outro e não “usá-lo” para satisfação própria. Nesse imediatismo egoísta queremos apenas “ficar junto” naquele momento e nada mais, pois o amanhã é algo distante e não queremos pensar, mas apenas “curtir” o momento, e por isso mesmo não se encontra referenciais para estabelecer o cuidar nem o conhecer o outro.

E preciso edificar de forma sadia o grande referencial da sexualidade, presente nas várias relações sociais e pessoais, num diálogo afetuoso e terno diante do outro, por palavras e gestos que não diminuam o outro, mas o ajudem a crescer, e assim não se fechar meramente ao sexo, mas vivê-lo como ato sublime, como consequência de uma decisão madura, caminhos que deveriam se cruzar, mas em sua maioria se tornam contrários. Quando o amor, ato primeiro de se querer alguém, não for o alicerce, o abuso estabelece suas primeiras raízes.  Para concluir gostaria de recordar, a nós que cremos no Senhor: maior é a nossa responsabilidade, mas também maior é a nossa alegria de amar à luz da fé em Cristo Jesus, pois quem ama, traduz em suas ações o que o Senhor nos confiou: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Padre Carlos Roberto Panassolo

Paróquia São Sebastião/Amparo

Texto integrante do Informativo bimestral O AMPARO, da Diocese de Amparo
Acesse a versão digital em: https://issuu.com/diocesedeamparo

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