Dois padres italianos, após quase 40 anos de trabalho missionário no Brasil, partem para o Timor Leste, pequeno país asiático de Língua Portuguesa com independência recém-conquistada, para uma nova etapa de seu ministério. A intenção era “descansar”, mas encontraram ali desafios que os instigaram a promover ações nos campos social e de promoção humana.
Após praticamente uma década de atuação na ilha de Ataúro, ao norte da capital do Timor Leste, Díli, os missionários Pierluigi Fornasier (o padre Luís) e Francesco Moser (padre Chico) viraram tema de um documentário longa-metragem. O produtor brasileiro Claudio Savaget gravou a história entre 2013 e 2017 e está rodando o Brasil para divulgar a história daqueles que “revolucionaram” a ilha timorense e que são “líderes da ação evangelizadora, mestres na liderança”.
A marca de revolução em relação aos dois padres está ligada à atuação dos dois junto ao povo da ilha timorense que abriga cerca de 12 mil pessoas. Por lá, os missionários italianos que trabalharam nas periferias de São Paulo (SP) e Fortaleza (CE) implantaram projetos como um sistema para levar água a 340 famílias e construção de banheiros de qualidade, em uma comunidade que não contava com esses itens básicos. Também incentivaram uma cooperativa que produz as Bonecas de Ataúro, uma das principais fontes de recursos para a ilha, que sobrevive basicamente do extrativismo, da agricultura e da pesca.
Já a característica de “líderes da ação evangelizadora, mestres na liderança” é apontada pela irmã Anna Christina de Souza Lima, franciscana do Sagrado Coração de Jesus que atuou em 2008 e 2009 no projeto missionário Brasil-Timor Leste realizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB).
“Eu tive esse privilégio. Eu não morei em Ataúro. Eu morei em Laclubar, na montanha, e morei em Laleia. Mas eu tive a oportunidade de passar um final de semana lá. Fui com uma missionária que foi comigo participar do projeto, a irmã Regina. E a gente queria muito conhecer Ataúro. Nós já sabíamos dos dois missionários, do padre Luis e do padre Chico. E a gente se entusiasmou”, conta.
A recordação é resgatada com empolgação pela religiosa: “Eu confesso que foi um final de semana, mas eu tenho a sensação de ter sido mais tempo. Imagina um final de semana tão intenso. E realmente eles são assim missionários, grandes missionários, são evangelizadores. O trabalho deles é belíssimo”.
Irmã Anna Christina conta que ficaram mais em contato com o padre Chico, que as levou para participar da celebração eucarística na comunidade onde atua padre Luís. Os locais são de difícil acesso e o barco era um dos principais meios de transporte. “Além do barco, a gente tem que andar, e a dificuldade do povo para chegar até ali… Mas que bonito: eles vão ao encontro do povo, trabalho com jovens. O que eu vi ali, eu fiquei impressionada”, relata.
A exibição do filme sobre o trabalho dos missionários italianos acontecerá no próximo sábado, dia 16 de junho, na sede do Centro Cultural Missionário, em Brasília (DF), com a presença do produtor, Claudio Savaget. O tour pelo Brasil já passou pelo Rio de Janeiro e chega à capital federal no contexto do Programa de Formação Permanente da CRB, o Profolíder, que acolhe religiosos e religiosas do Brasil e de Moçambique até o mês de agosto no CCM.
“Eu via muito próximo eles com os jovens, com o povo. É uma comunhão. E a liderança tem que ser por aí, aquela dimensão de servir o outro”, reforça. A religiosa ainda destaca que os presbíteros já têm uma certa idade, são octogenários, e que mesmo assim não se restringem a nada. “Pegam o barco. Tem lugares que vão até certo ponto com o barco e depois tem que ser a nado”, recorda.
O filme
O documentário de 98 minutos foi produzido por Claudio Savaget, em parceria com o Centro Audiovisual Max Stahl para Timor-Leste (CAMS-TL), e editado pelo timorense Eddy Pinto. Foi lançado em março no Timor-Leste e as exibições seguiram em Trento e Bolzano, na Itália, sedes das dioceses de origem dos padres Chico e Luís, respectivamente. Portugal antecedeu o Brasil na jornada de exibições.
Além de abordar os diversos projetos de cunho ambiental e social desenvolvidos pelos missionários, o filme também revela tradições culturais e o patrimônio ambiental da ilha, considerado abrigo da maior biodiversidade marinha do planeta.
Informações: CNBB