A Igreja, conforme o decreto Ad Gentes nº 2, do Concílio Vaticano II, “é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na missão do Filho e do Espírito Santo”. A sua existência no mundo é fruto das três Pessoas divinas. Não há missão sem a Trindade, haja vista, a dimensão comunitária ser fundamento primordial à Igreja, sem a qual a autenticidade cristã se corrompe.
Mas cabe-nos a pergunta: o que é missão? Uma das grandes restaurações em nossos dias tem sido a recuperação da Missio Dei (a missão de Deus). A palavra missio vem do latim, que significa “enviado”. Deus é missionário. O Pai nunca é enviado, porém envia o Filho, e ambos, o Espírito Santo. Como Igreja fazemos parte desse envio, pois, disse Jesus: “assim como o Pai me enviou, eu vos envio” (Jo 20,21). Cada cristão é um enviado, pois, recebemos em nosso batismo o tríplice múnus de Cristo: sacerdote (oferecer-se em sacrifício), profeta (anunciar o Reino e denunciar a injustiça) e rei (protagonizar no testemunho de si, o Reino de Deus). Não existe um cristão não-enviado, cujos propósitos afastam-se dos de Deus.
A missão da Igreja deve gerar em cada cristão uma transformação pessoal e social. Levando-o a se entregar a serviço da vida plena. “A tarefa missionária é tão coerente, ampla e profunda quanto o são a necessidade e as exigências da vida humana” (BOSCH,D. Missão transformadora: mudanças de paradigma na teologia da missão, p.28). Se todos se conscientizassem disso, levaria em sua inteireza o Evangelho ao mundo inteiro: “Ide por todo mundo, pregai o evangelho a toda a Criatura” (Mc 16,15). Pois, ao mesmo tempo que somos discípulos (aprendizes – essa é a característica da missão), somos apóstolos (enviados).
A missão inclui evangelização e não colonização, semear e não proselitar (desculpem meu neologismo), ou seja, inclui amor, acolhida, escuta e não imposição e barganha. É dimensão essencial da missão a liberdade do encontro com o Messias. Desse modo, o objetivo da Igreja é dar continuidade à pratica de Jesus de Nazaré.
O Papa Francisco, na exortação apostólica Evangelii Gaudium nº 24, propõe o dinamismo de uma Igreja em saída. “A Igreja em saída é a comunidade de discípulos missionários que primeireiam (tomam iniciativas, sabem ir ao encontro do outro), que se envolvem (com obras, gestos, inserem-se na vida do próximo, inclina-se para levar-lhes os pés), que acompanham (o ser humano em sua integralidade com paciência e determinação), que frutificam (mante-se atenta aos frutos e se necessário faz-se sementes e testemunha de Jesus) e festejam (celebram cada pequena vitória) ”.
Assim sendo, uma Igreja missionária é aquela que se encarna nas limitações humanas. A missão não deixa a identidade cristã ser esquecida. Não tenham medo de passar por uma renovação eclesial. Sejam missionários, assumam o protagonismo deste novo mundo. Vocês são importantes diante dessa realidade complexa, contraditória e toda fragmentada, na qual torna difícil compreender os rumos históricos e julgar se ofuscamento os caminhos do Reino de Deus.
Pe. Ademir Bernardelli