NATAL: nossa esperança está no Pequenino de Belém!
Inquestionavelmente, uma palavra que nunca pode faltar em nossa caminhada cristã é “esperança”. Acredito que essa verdade tem um significado todo especial no Natal.
Como já ouvimos e, certamente, concordamos, esse maravilhoso vocábulo em nosso dicionário cristão não está associado ao verbo “esperar”, se isso significar uma atitude passiva.
Com o Natal, finalizamos, consequentemente, o tempo litúrgico do Advento que nos convocou a vivenciar uma espera, mas não sem compromisso. Daí que vale a pena resgatarmos um importante pensamento do grande educador Paulo Freire, para celebrarmos verdadeiramente o nascimento do Salvador. Em sua obra “Pedagogia da Esperança” (1992), lemos: “É preciso ter esperança, mas esperança do verbo esperançar (…). Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir. Esperançar é ser capaz de buscar o que é viável para fazer o inédito, esperançar significa não se conformar. Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com os outros para fazer de outro modo…”.
Com toda certeza, essas inspiradoras palavras adquirem maior sentido ainda quando nos voltamos para Aquele único que dá o pleno sentido ao Natal, bem como ao natal (nascimento) e à vida toda de cada pessoa que existiu, existe e existirá, mesmo que essa pessoa não creia.
Celebrar o Natal, com uma espera-compromisso, numa verdadeira disposição de adesão ao projeto do Salvador, é enxergar um “esperançar” sempre desafiador, como não poderia ser diferente para quem, de fato, sabe e expressa que seguir Jesus é adorar o Pequenino de Belém, de uma Maria e sob os cuidados de um José, que sofreram muitas e enormes aflições e provações para confirmarem o seu “sim” ao Plano de Deus, ininterruptamente, em meio a tantas circunstâncias delicadas.
Como é do nosso conhecimento, os desafios fazem parte da nossa vida e nos impulsionam a crescer, a aprender e a nos superar. O importante é que nos direcionemos a trabalhar nessa perspectiva. A verdadeira perspectiva que tem que nos impulsionar é aquela que vem da fragilidade que a realidade do nascimento de Jesus explicita, uma fragilidade que, obviamente, não pode ser entendida num sentido negativo. Ao contrário, foi Deus que assim o quis, em Seus insondáveis desígnios, justamente para que nenhuma experiência de fracasso ou de impotência seja motivo para nos paralisar e “abortar” o novo que a graça d’Ele nos possibilita sonhar e construir, fazendo acontecer em inumeráveis pequenas coisas, o projeto do Reino, o novo céu e a nova terra.
Como Deus é sempre do “contra”, como podemos verificar, em comparação ao nosso modo “normal” de pensar e proceder, segundo os critérios muito mundanos da sociedade que fortemente nos influenciam, é imprescindível voltarmos ao genuíno presépio, para contemplarmos, adorarmos e nos deixarmos ser influenciados pelo que o Menorzinho de Belém tem a nos comunicar.
Que bom celebrar o Natal como cristã e cristão, comprometida e comprometido com Jesus, com a sua causa! Que bom voltar ao longo do ano que está terminando e, mediante uma autoavaliação, poder reconhecer que o Natal aconteceu numerosas vezes para quem, independentemente da identidade, e, principalmente, numa condição de vulnerabilidade, recebeu do nosso coração uma manjedoura, talvez muito simples, mas oferecida com um afeto ou uma ternura que fizeram significativa diferença!
Que bom se celebramos o Natal e avançamos no Ano Novo, o ano do Jubileu, como “peregrinos de esperança”, assumindo o protagonismo de Maria e de José, num “sim” que, não obstante tantos “nãos” de uma sociedade excludente, desigual e desumana, vai, incansavelmente, procurar uma gruta, numa Belém talvez insignificante ao parecer social vigente, porém onde a luz de Deus vai se manifestar com admirável esplendor, na vida de alguém, um próximo no qual mais explicitamente Jesus quer ser adorado, verdadeiramente.
Dom Luiz Gonzaga Fechio