DOM LUIZ: SERÁ QUE NOS PREOCUPAMOS, DE FATO, COM A PAZ?

Dom Luiz Gonzaga Fechio, bispo diocesano, participou da 6ª edição do “Movimento Você e a Paz”, que ocorreu em Amparo, no domingo, dia 29 de julho. Confira abaixo a Mensagem de Paz de nosso pastor.

A paz significa muito mais do que as nossas pobres palavras podem expressar numa mensagem, por mais bonita que ela seja. Por isso, estejamos aqui para nos fortalecermos mutuamente nessa grande missão pela paz que é de todos e, portanto, de cada um(a), em qualquer tempo e lugar, e diante de quem quer que seja.

Louvo esta iniciativa da BW Eventos, com o patrocínio da Ypê, com os demais apoios, em sua 6ª edição, agradecendo por este convite que me foi feito pela 3ª vez, alegrando-me pela presença de meus irmãos e minha irmã que têm uma forte liderança religiosa, bem como pela presença de cada irmão e irmã que aqui se encontra.

O dia de hoje foi, certamente, um dia diferente para muitas pessoas, quanto às atividades que foram propostas, também como opção de lazer, de convivência e cuidado com a saúde. E tenho certeza que a conclusão será com um show muito bonito que acontecerá daqui há pouco.

É muito importante levarmos, porém, para a nossa vida, um renovado compromisso pela paz. Digo isto porque tudo o que podemos guardar materialmente deste dia (camiseta, lembranças, fotos) só tem sentido se saímos deste lugar mais comprometidos com a causa da paz. E se não tomarmos cuidado, aquilo de que falamos sempre, acaba se tornando algo repetitivo, cansativo, até inalcançável ou distante de uma preocupação nossa.

Será que nos preocupamos, de fato, com a paz? Evidentemente, faço esta pergunta para mim, também. E, no meu modo de pensar, este questionamento é pertinente, cada vez mais, quanto melhor observamos “n” situações nas quais desprezamos a oportunidade de sermos agentes construtores da paz. Talvez, quando pensamos em paz, associamos com práticas ou realidades que envolvem grandes conflitos. Porém, um grande conflito, geralmente, senão sempre, será o desaguar de vários ou muitos pequenos acontecimentos desagradáveis, tristes, que vão se somando e, como costumamos dizer, se não conhecemos direito nem a nós mesmos, o que dizer dos outros, do meu irmão, do próximo? Será que eu preciso ter uma arma de fogo ou portar uma arma branca, como assim é chamada, para fazer um grande estrago na vida de alguém, muitas vezes até uma pessoa muito querida? Ora, reconheçamos que para agredir e machucar alguém não é preciso muito, e parece que esta é uma verdade da qual estamos convencidos cada vez mais. Mas, se não podemos negar tal afirmação, é perceptível, por outro lado, como um insignificante – assim considerado, aparentemente – gesto de bondade, verdadeiramente gratuito, desinteressado, pode fazer uma grande diferença!

A velocidade rápida com que tudo acontece ao nosso redor, que nos leva a sermos cada vez mais acelerados, provoca vazios, muitas vezes imperceptíveis, que, lá na frente, poderão ter um desdobramento assustador, ou uma tragédia, como, por exemplo, um homicídio, ou então, um suicídio, prática que parece repetir-se com mais frequência e que, ao menos num primeiro momento, tende a nos intrigar mais do que o homicídio. Se é um absurdo tirar a vida de alguém, a impressão é que este absurdo se acentua mais ainda quanto ao ato de tirar sua própria vida, certamente, por incrível que pareça, para ter a paz. É importante esclarecer que jamais afirmo isto em tom de juízo, e sim, de questionamento. E, sem entrar com detalhes e me alongar no assunto, pois não é o momento, é muito triste que estejamos próximos de ter a legalização do aborto até a 12ª semana de gestação, em nosso país. A meu ver, é complicado falar de paz, diante de realidades de violência camuflada.

Penso que não precisamos forçar a mente para reconhecer ou admitir que a paz tem muito a ver com a saúde, mas precisamos entender a saúde num contexto bem amplo, como, aliás, é a própria definição dela.

Um documento de uma Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada no Canadá, em 1986, afirma que “são recursos indispensáveis para ter saúde: paz, renda, habitação, educação, alimentação adequada, ambiente saudável, recursos sustentáveis, equidade e justiça social, com toda a complexidade que implicam alguns desses conceitos. A promoção da saúde é o resultado de um conjunto de fatores sociais, econômicos, políticos e culturais, coletivos e individuais, que se combinam de forma particular em cada sociedade e em conjunturas específicas, resultando em sociedades mais ou menos saudáveis.”

Diante dessa afirmação, penso que é difícil declarar facilmente que o nosso mundo é um mundo saudável. Será que uma boa parte dele, ou seja, dos seus habitantes, não está doente? Será que muitas vezes não deixamos passar, mesmo que despercebidamente, sintomas que acusam que não estamos bem, mas, talvez, não queiramos admitir?

Dom Luiz citou em sua Mensagem o texto do padre venezuelano Jesús Genaro Pérez, 7 conselhos práticos para recuperar a paz do coração. Confira abaixo:

1. Programar e planejar o futuro sem transformá-lo em obsessão: Uma das coisas que mais nos afeta é a angústia ou a preocupação com o futuro que nos “rouba” o momento presente. O que vai acontecer amanhã? É preciso ocupar-se, mas não se preocupar. É preciso planejar, mas sem nos tornarmos obcecados pelo futuro. Dyer (Dr. Wayne Walter Dyer, dos EUA, foi um autor de livros de auto-ajuda; passou grande parte da sua adolescência num orfanato) escreveu: “Todas as nossas neuroses são o resultado de não viver o presente.” E Jesus Cristo disse: “Não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu cuidado” (Mateus 6,34).

2. Trabalhar por um ideal com a aceitação serena da realidade: Temos que trabalhar por um objetivo, pela excelência, pelo melhor, mas sem que a realidade nos decepcione. Recordemos a oração da serenidade: “Senhor, concedei-me a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso mudar; coragem para mudar aquelas que posso e sabedoria para reconhecer a diferença entre elas”. Também podemos nos valer destas palavras: “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente.”

3. Desistir de sempre ter razão: Uma das coisas que mais nos divide são as intermináveis discussões político-ideológicas. Chegamos a perder valiosas relações familiares e de amizade por discussões em que queremos impor “nossa razão”, nossa verdade. É preferível ter paz e dormir tranquilo a ter razão sempre ou impor nosso ponto de vista, embora não deixa de ser importante apresentá-lo, pois cabe, às vezes, aquele pensamento de Martin Luther King: “O que me preocupa não é o barulho dos maus, e, sim, o silêncio dos bons”.

4. Aprender a dizer Não: “Dizei somente: Sim, se é sim; não, se é não. Tudo o que passa além disto vem do Maligno” (Mateus 5,37). Dizer sim, não porque você quer e pode fazer o que lhe pedem, mas por satisfazer a vontade de alguém por medo de perder a sua amizade e o seu amor é não só um atentado contra si mesmo, como também um gerador de estresse e incômodo que desgasta qualquer um. Conheça seus limites, aja dentro deles e respeite-os. O que muito abraça pouco aperta.

5. Não transformar nada nem ninguém em uma obsessão: Nem para o bem, nem para o mal. A obsessão tira a paz e faz perder o prazer de tudo. Outro sinônimo de obsessão pode ser codependência, adição, vício. Por trás de todo o sofrimento, há um vício. Quando você solta os vícios surgem a liberdade e a paz.

6. Dar menos espaço para a “informação” e mais espaço para a formação, diversão e as relações interpessoais: “Os olhos não se cansam de ver, nem os ouvidos se cansam de ouvir” (Eclesiastes, 1,8). Estamos sobrecarregados de informação; disparou-se uma espécie de vontade extrema de estarmos informados de tudo através do jornal, do rádio, da televisão, dos celulares, da internet (twitter, facebook).  E esse excesso de informação tirou tempo e espaço destinados à formação, à diversão saudável, à espiritualidade, aos momentos com os amigos e a família. E isso tem-nos roubado a paz. É preciso retomar espaços para as artes, para a cultura em geral e, sobretudo, para os encontros. Uma pessoa virtual jamais substituirá o olhar e o abraço de uma pessoa real.

7. Orar: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos! Seja conhecida de todos os homens a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus” (Filipenses 4, 4-7).

Por fim o bispo mencionou algumas frases do Papa Francisco de 8 de setembro de 2016:

“Podes falar da paz com belas palavras, fazer uma grande conferência, mas se nas tuas pequenas coisas, no teu coração, não há paz, se na tua família não há paz, se no teu bairro não há paz, no teu local de trabalho não há paz, então também não haverá no mundo.”

“A paz é um dom de Deus que nasce em lugares pequenos.”

“…a paz não se faz de um dia para o outro: a paz é um dom, mas um dom que deve ser recebido e realizado todos os dias”. (…) “podemos dizer que a paz é um dom que se torna artesanal nas mãos dos homens: somos nós homens, cada dia, que damos um passo rumo à paz, este é o nosso trabalho.”

 

Confira também a Mensagem de Paz proferida pelo bispo nas últimas edições do evento: 2017 e 2016.

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