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DOM DARCI JOSÉ NICIOLI: “17 ANOS DEPOIS E O TERROR DE 11 DE SETEMBRO AINDA TEM SEUS TENTÁCULOS NO MUNDO”

A hijacked commercial plane approaches the World Trade Center shortly before crashing into the landmark skyscraper 11 September 2001 in New York. AFP PHOTO/Seth McCallister

Dom Darci José Nicioli, arcebispo de Diamantina (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral da Comunicação da CNBB, concedeu entrevista sobre o significado atual de um ataque que abalou o mundo e desencadeou crises no sistema de segurança de muitos países.

Confira.

O ataque de 11 de setembro ainda continua muito presente na memória das pessoas e o terror, infelizmente, também continua sendo ameaça constante em vários lugares do mundo. Que tipo de mensagem essa data traz para o mundo de hoje?

A primeira mensagem é de que a violência não pode ser recurso para se resolver nenhum tipo de conflito. Além disso, 17 anos depois e o terror de 11 de setembro ainda tem seus tentáculos no mundo. Há muitas nações, ainda hoje, vivendo sob a sombra de ameaças de ataques covardes. O terrorismo é uma expressão de covardia. Pessoas inocentes se tornam alvos de gente que ao invés de tomarem o caminho do debate e da negociação preferem lançar mão do recurso da violência que assusta, apavora e desestabiliza nossa convivência social.

Lembro-me que um ano depois dos ataques ao World Trade Center, em 2002, São João Paulo II dizia que o terrorismo é e será sempre uma manifestação de crueldade desumana que, precisamente como tal, nunca poderá resolver os conflitos entre seres humanos. Ele recordava que a prepotência, a violência armada, a guerra são escolhas que semeiam e geram unicamente ódio e morte. Só a razão e o amor são meios válidos para superar e resolver as rivalidades entre as pessoas e os povos.

Creio que na recordação dessa data seria importante lembrar que o santo reconhecia que era “necessário e urgente um esforço concorde e resoluto para empreender novas iniciativas políticas e econômicas capazes de resolver as situações escandalosas de injustiça e de opressão, que continuam a afligir muitos membros da família humana, criando condições favoráveis à explosão incontrolável do rancor. Quando os direitos fundamentais são violados é fácil cair vítima das tentações do ódio e da violência. É necessário construir juntos uma cultura global da solidariedade, que dê de novo aos jovens a esperança no futuro”.

A violência representada pelo terror naquele episódio marcou de maneira tal que influenciou os sistemas de segurança de vários países. Na opinião do senhor, o mundo está mais seguro?

Dois aviões que se jogam sobre um prédio marcaram a cabeça das pessoas e passaram a representar uma ameaça generalizada em todos os cantos do mundo. As investigações que se seguiram mostraram que a motivação daquela tragédia tinha cores ligadas às políticas e as ideologias que separam o mundo ainda hoje. Infelizmente, o mundo ainda continua inseguro, mas o ataque de 11 de setembro de 2001 deixou lições que foram aplicadas nos cuidados com a segurança no mundo inteiro.

Em 2011, quando se recordou 10 anos daquele duro golpe da queda das torres em Nova Iorque, Papa Bento XVI, ao encerrar um Congresso Eucarístico na Itália, lembrou: “Mais uma vez, deve-se afirmar inequivocamente que nenhuma circunstância jamais pode justificar atos de terrorismo. Cada vida humana é preciosa aos olhos de Deus e não se deveria medir esforços na tentativa de promover em todo o mundo um respeito genuíno pelos direitos inalienáveis e a dignidade dos indivíduos e dos povos em todos os lugares”.

E, como fizera São João Paulo II, o Papa também pedia atitudes novas: “Mais uma vez, deve-se afirmar inequivocamente que nenhuma circunstância jamais pode justificar atos de terrorismo. Cada vida humana é preciosa aos olhos de Deus e não se deveria medir esforços na tentativa de promover em todo o mundo um respeito genuíno pelos direitos inalienáveis e a dignidade dos indivíduos e dos povos em todos os lugares”.

Hoje em dia encontramos, infelizmente, pessoas que ainda acreditam que a violência pode ser a solução para se resolver conflitos políticos e sociais. O que o senhor diria a essas pessoas?

Digo somente o que diz a Bíblia: “Guarda-te de jamais fazer a outrem o que não quererias que te fosse feito” (Tb 4,16). A violência gera novas situações de violência. Mesmo quando entendemos que alguém faz algo que nos prejudica isso não nos autoriza a cometer violência contra ninguém. No discurso profundo e maravilhoso feito por Jesus e que encontramos na primeira parte do Evangelho de São Mateus também deve nos acudir na tentação de revidar: “Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt 5, 38-39).

Na Quaresma deste ano, a CNBB nos chamou para o aprofundamento sobre o tema da superação da violência. E entre os vários aspectos apresentados naquele período, destaco o papel dos meios de comunicação, por se tratar da área que atuo na Conferência. Muitas vezes, a mídia acaba por induzir as pessoas a ter uma ideia equivocado sobre fatos de evidente violência quando chegam a passar a ideia de que culpadas são as vítimas, escondendo as verdadeiras causas da violência.

Além disso, certas mensagens acabam por promover um entendimento de que desigualdade social é algo natural, fatal. E muito grave ainda: as mensagens da mídia tratar mulheres, jovens, idosos, negros, negros, indígenas e refugiados como se fossem pessoas inferiores.

Informações: CNBB

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