O Dia de Finados coloca-nos diante da questão fundamental da morte. Nosso modo de enfrentar a vida depende muito do modo como encaramos a morte, e vice-versa!
Há os que cinicamente a ignoram. Vivem como se não fossem morrer um dia: preocupam-se somente com esta vida: comamos e bebamos! São pessoas rasas, que nunca pararam de verdade para se perguntar sobre o sentido da vida; não vivem, apenas sobrevivem! Quando tiverem de enfrentar a própria morte, que vazio, que absurdo encontrarão! É o preço a pagar pelo modo leviano com que viveram a vida! Quando o homem não pensa na morte, esquece que é finito, passageiro, e começa a julgar-se Deus de si mesmo, infernizando sua vida e a dos outros.
Há outros que diante da morte se angustiam, se desesperam. A morte os amedronta: parece-lhes uma insensatez, pois é a negação de todo desejo de vida, de felicidade e eternidade que cresce no coração do homem. Estes se sentem esmagados pela certeza de um dia ter de encarar, frente a frente, tão fria, tirana e poderosa adversária.
Há também o grupo dos otimistas ingênuos. Vemo-los nas seitas esotéricas de inspiração oriental e em todas as doutrinas reencarnacionistas. A Seicho-no-iê afirma que o mal, a doença, a morte, são apenas ilusão: a meditação, o autocontrole, a purificação contínua, poderiam libertar o homem de tais ilusões; o Espiritismo proclama, bêbado de doce ilusão: “A morte não existe. Não há mortos!”
E há o modo cristão de encarar a morte: ela não somente existe, como marca toda a nossa existência: vivemos feridos por ela, em cada dor, em cada doença, em cada derrota, em cada medo, em cada tristeza… até a morte final! Então, os discípulos de Cristo são pessimistas? Não! Simplesmente não nos iludimos: sabemos que a morte é uma realidade e uma realidade que não estava no plano de Deus: não fomos criados para ela, mas para a vida! Deus não é o autor da morte, nem se conforma com ela! Por isso enviou-nos o seu Filho, que morreu da nossa morte para que nós não morramos sozinhos, mas com ele e como ele, que venceu a morte! Assim, ela deixou de ser uma caverna escura e sem saída, e tornou-se um túnel, cujo final é luminoso. Tornou-se apenas uma passagem, um caminho para a nossa Páscoa, nossa passagem deste mundo para o Pai. Em Cristo a morte pode ser enfrentada e vencida! Certamente ela continua dolorosa; mas se no dia a dia vivemos unidos a Cristo, que venceu a morte, a morte final será um “adormecer em Cristo”.
D. Henrique Soares da Costa
Texto integrante do folheto ‘DEUS CONOSCO | A PALAVRA ILUMINA – DIOCESE DE AMPARO’ (02.11.17 – Comemoração dos Fiéis Defuntos)