CARTA DOS JOVENS AO BISPO DOM LUIZ GONZAGA

Querido dom Luiz Gonzaga Fechio, nosso bispo,

Acreditamos que nós, jovens, não somos apenas o futuro da Igreja, mas, junto a tantos outros, somos também o presente da Igreja. Como declara o Papa Francisco, “a Igreja tem o dever de ouvir o jovem e este tem a necessidade de ser ouvido”. Nesta relação, tantas formas diferentes de ser Igreja, características da juventude – alegria e esperança – possibilitam o caminhar da comunidade cristã, uma relação positiva entre as diversas gerações, entre os jovens e os padres, com o bispo…

Durante este encontro, em celebração ao Dia Mundial da Juventude, tivemos a oportunidade de refletir sobre alguns assuntos relacionados à nossa vivência de Igreja, nosso relacionamento com a família, com a sociedade em geral etc. Gostaríamos de compartilhar com o senhor um pouco da nossa vivência, a partir dos temas que foram propostos.

Em um primeiro momento, gostaríamos de falar sobre nossa relação enquanto Igreja. Infelizmente, a falta de conhecimento, por exemplo, da Doutrina Social da Igreja, impossibilita muitas vezes que possamos ter a postura cristã que queremos e que a Igreja espera de nós. Estimular este tema garante que tenhamos uma postura menos individualista. Neste aspecto, é importante a formação, seja ela com materiais impressos ou online, cursos para leigos, encontros etc. Vemos que há uma necessidade de os padres se preocuparem com o Ser Igreja no mundo, ou seja, no nosso cotidiano, seja na família, escola, entre os amigos…

Acreditamos que o Ser Igreja no mundo também aborda a questão política. Compreendemos que a Igreja não deve se tornar partidária, mas – em especial em tempo eleitoral – orientar os fiéis para que haja coerência da fé professada com as escolhas feitas politicamente. Não vemos este direcionamento – ao menos para os jovens – nas nossas paróquias.

Outro fator importante de nossa vivência é que a juventude é um tempo de escolhas e dúvidas. Neste aspecto, acreditamos na importância de falar mais das vocações. Infelizmente muitos jovens – por falta de conhecimento – reduzem as vocações apenas às religiosas. Somos julgados quando expomos aquilo que sentimos ser nossa vocação, até mesmo pelos amigos, familiares e padres. Sentimos que é necessário um maior auxílio e acolhimento para dar resposta à nossa vocação. Desejamos mais encontros sobre o tema.

Acreditamos que é possível ser santo sem deixar de ser jovem. Porém, alguns jovens têm até vergonha de se assumirem católicos, e a Igreja não expõe modelos de santidade – ao menos de forma prática e que desperte no jovem este desejo. Ao contrário, vemos muitas vezes que expõem modelos “quadrados”, “inatingíveis”, que geram medo e até mesmo acomodação. Conhecer mais a Palavra de Deus nos ajudará a ser jovens testemunhas verdadeiras de Cristo e da busca da santidade.

Pensando nisto, acreditamos que é indispensável o incentivo dos padres para que os jovens possam ser Igreja na prática, em especial servindo nas pastorais e movimentos. Infelizmente, em algumas paróquias este incentivo não existe. E sabemos que, em tantas outras, os jovens não respondem a este incentivo.

Nossas famílias são ambientes privilegiados para o incentivo à vivência de fé, para a educação para uma vida de fé. Hoje, muitos pais não transmitem esta vivência porque não participam da Igreja. Gostaríamos de um acompanhamento maior da nossa necessidade espiritual pelos nossos pais. Muitos jovens, entretanto, sentem até vergonha de conversar sobre este assunto com os pais.

Nós, jovens, gostaríamos de uma Igreja mais de atração, de proximidade, e não que em um primeiro momento nos digam regras. Por isso alguns acham que é mais fácil acreditar em Deus sem uma religião, porque isso não gera comprometimento, responsabilidade. Isso fica evidente no acolhimento aos jovens que iniciam a catequese para a crisma. Por que alguns abandonam logo nos primeiros encontros? Porque, infelizmente, não são acolhidos de forma adequada, ao contrário, recebem uma lista de regras e obrigações. Cremos que estas são importantes, mas o acolhimento deve cativar o jovem para que ele se entusiasme e queira não apenas frequentar a catequese da crisma, mas participar mais ativamente do ser Igreja.

Quando o jovem vai apenas à missa isso se torna maçante, até porque alguns jovens não entendem a importância da missa, muitas vezes porque não compreendem a liturgia e/ou a homilia. Por isso é tão importante que o celebrante possa trazer para a nossa vida, nossa vivência, o que Jesus nos ensina e espera de nós.

A presença do senhor, nosso bispo, entre nós, é importante neste caminhar. Não apenas em celebrações, mas também no cotidiano de nossa comunidade, grupos de jovens, assim como a presença e incentivo do Setor Juvenil. Sabemos da grande agenda que tem, mas gostaríamos de tê-lo mais próximo.

Neste segundo momento, gostaríamos de falar um pouco sobre a vivência familiar e o conflito entre gerações.

Temos consciência de que a família é importante, mas, com os novos desafios que o cotidiano impõe, é preciso dar atenção maior a ela. Muitos pais não dialogam com seus filhos, há uma crise de autoridade dentro de casa e, muitas vezes, nós não somos ouvidos. Acreditamos que um bom trabalho da Pastoral Familiar pode colaborar para melhorar esta vivência familiar, fazendo com que haja mútuo respeito, compreensão e maior proximidade física entre nós e nossos pais, por exemplo.

Toda geração tem sua importância e podemos aprender uns com os outros. É preciso que nossos pais compreendam que podemos também ensinar algo, compartilhar, e assim crescer enquanto família. Uma melhor orientação na questão da vocação ao matrimônio ajudará consideravelmente para que nós, quando formarmos nossa própria família, possamos responder a este anseio que hoje notamos.

A falta de espiritualidade e de um ambiente familiar de diálogo e compreensão pode causar no jovem vários sofrimentos e até mesmo levar à depressão e, infelizmente, ao suicídio. Medo, frustração, perda de entes queridos e acúmulo de tristeza são alguns dos motivos que levam um jovem à depressão. Como cristãos, a primeira coisa que devemos fazer é rezar e nos fazer presentes para ajudar estes nossos irmãos. Esperamos da nossa Igreja, enquanto diocese, mais encontros e espaços de atenção a este problema, como acontece com outros, como no caso do alcoolismo, porque não precisamos ter depressão para saber como ela é e como ajudar. Isto é amar o próximo e cativar os jovens na alegria.

Outro assunto inerente à juventude é a questão da sexualidade. Neste ponto, sabemos dos problemas que causa não conhecer melhor a nossa sexualidade humana e o que a Igreja propõe. A Igreja não é proibitiva, como tantos pensam, mas ela nos propõe viver a sexualidade pautados no amor e na dignidade. A questão da castidade, por exemplo, não é tratada de maneira adequada muitas vezes, e parece-nos algo de proibitivo, quando, na realidade, nos proporciona uma melhor relação conosco mesmos e com os outros. Muitos jovens têm medo de pedir a ajuda da Igreja, de serem julgados quando o que querem é acolhimento e orientação.

Muitos jovens não se sentem acolhidos para tratar desses assuntos com o padre, por exemplo. No caso do namoro, acreditamos que tê-lo como momento privilegiado de conhecimento e de diálogo garantirá, em certa medida, o sucesso de uma vida pautada pela fé. Palestras, testemunhos e encontros de namorados na diocese ajudariam neste caminhar. Conversar com os outros jovens, que também passam pelas mesmas dúvidas, e com pessoas que podem nos ajudar a refletir e entender melhor o tema é muito importante.

Nós, jovens, sentimos diversas formas de pressão da sociedade, como no caso da escolha de uma profissão, que cada vez acontece mais cedo por conta do vestibular. Este problema pode gerar grandes frustrações, pessoas que entram em cursos não por vocação, mas por status e pressão da família, questão financeira etc. Este processo precisa de autoconhecimento, de refletir não o que a sociedade espera, mas o que nos fará felizes. A Igreja é um ótimo ambiente para nos ajudar neste importante momento. Não vemos em nossas paróquias um trabalho com os jovens neste sentido.

Infelizmente, a violência parece reinar em nossa sociedade, como se não fosse possível uma sociedade de paz. Muitos aspectos nos fazem pensar assim, porque várias formas de violência acontecem, como o preconceito racial e religioso, assédio moral e sexual, estupro, pedofilia, violência no trânsito, homofobia, bullying etc. Ser tolerante é respeitar e aceitar a opinião dos outros. Nós, jovens cristãos, devemos sempre buscar Deus e ajudar os outros a também terem este encontro transformador com a pessoa de Jesus e, com isso, ajudar a sociedade a ser um ambiente mais fraterno e justo. Algumas atividades como missões dos jovens, trabalho nas escolas e formação são importantes e necessárias, feitas por nós como Igreja e diocese. Ser tolerante é aceitar que as pessoas podem pensar diferente, mas isso não significa negar o que acreditamos. Devemos ser testemunhas da fé que professamos.

A atualidade nos fornece muitas formas de relacionamento, entre elas a que mais usamos, as redes sociais, que são importantes ambientes de diálogo quando bem utilizadas. As redes sociais têm um lado positivo e outro negativo. Apesar de favorecer a troca de informações e conversas, muito do que é compartilhado não tem sentido, não reflete e não testemunha o nosso papel enquanto Igreja. Nós jovens estamos cada vez mais dependentes da internet, e o paradoxo disso é que ela aproxima quem está longe e afasta quem está perto. O relacionamento virtual é também real e a Igreja deve estar atenta e inserida nestes novos espaços. Combater as notícias falsas, dar nosso testemunho cristão, criar diálogos e fortalecer relacionamentos são nossas tarefas. Neste tema, os jovens podem ajudar, e muito, porque nós temos mais afinidade com essas novas formas de relacionamento e tecnologias. O uso das redes sociais pela diocese e pelas paróquias é uma importante forma pela qual a Igreja pode evangelizar em novas redes. Deve, porém, haver mais orientação e reflexão sobre este tema para o melhor uso dessas novas tecnologias.

Dom Luiz, nós, jovens da Diocese de Amparo, neste ano no qual celebramos 20 anos de instalação da nossa diocese, gostaríamos de dizer que o senhor pode contar com a gente! Juntos podemos fazer muito para a glória de Deus, para o bem da Igreja e a salvação de todos.

08 de abril de 2018, Domingo da Misericórdia

Santuário Senhor Bom Jesus, Monte Alegre do Sul

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