Os desafios da Igreja nas regiões mais extremas do País foi o terceiro Meeting Point da 56ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Aparecida (SP). Para falar sobre o assunto foram convidados dom Pedro José Conti, bispo de Macapá (AP), e dom Ricardo Hoepers, bispo de Rio Grande (RS).
Macapá – Dom Pedro falou sobre a realidade do Oiapoque, município do extremo norte do Brasil, na divisa com a Guiana Francesa. O primeiro grande desafio para a ação pastoral na região é a distância. Há 600km de Macapá, cerca de 100km da estrada não é pavimentada, dificultando o acesso de carro sobretudo no período de chuvas. Na fronteira entre os dois países, existe uma ponte. No entanto, o acesso dos brasileiros para o país vizinho é restrito, uma vez que se trata de território europeu.
Os problemas elencados pelo bispo, estão os garimpos, muitos dos quais clandestinos, e todo o impacto socioambiental decorrente. Dom Pedro também chamou a atenção para o desafio do tráfico humano, tema que foi destaque na Campanha da Fraternidade de 2014, e a prostituição de mulheres e menores de idade.
“Por mais que tenham se intensificado as pesquisas sobre essa questão, é muito difícil entender o que acontece e, sobretudo como acontece o tráfico humano. Por isso, acaba sendo muito difícil intervir”, afirmou dom Pedro.
Segundo o bispo, a amplitude da fronteira dificulta o controle do tráfico. “É só pegar um barquinho em uma hora estratégica e dá para chegar na Guiana Francesa e, por caminhos, é mais fácil chegar em Suriname”, disse.
Desde 2015, existe uma inciativa de um sacerdote do Pontifício Instituto das Missões Exteriores no Brasil (PIME) desenvolveu um trabalho chamado “Missão nas Fronteiras” realizado por um grupo de voluntários leigos e religiosas que se empenham na prevenção, oferecendo para as adolescentes atividades como crochê, pintura e artesanato, podendo ser até fonte de renda.
O trabalho junto aos povos indígenas também é prioridade pastoral na região do Oiapoque, com destaque para os missionários do Verbo Divino (verbitas). “Hoje nós trabalhamos mais na linha de promover os povos indígenas para que eles mesmos sejam agentes e pastoral. Eles mesmos têm que ser os protagonistas da sua própria evangelização”, afirmou dom Pedro.
A pastoral pode contar com poucas pessoas, pelo fato de a cidade de fronteira ter uma grande mobilidade. “Sentimos falta de agentes de pastoral qualificados. Sinto que, como diocese, precisamos estar mais próximos em todos os sentidos, mas, devido à distância, dificuldades de transporte e mesmo o custo dessa pastoral, não é fácil.
Rio Grande – Ao falar sobre a realidade do município do Chuí, no extremo sul do País, dom Ricardo chamou a atenção para o fato de essa ser a cidade com o maior índice de pessoas que se declaram sem religião no censo do IBGE de 2010, ou seja, 54% da população, enquanto apenas 26% são católicos.
“Em primeiro lugar, precisamos ir ao encontro desses católicos que não sabemos onde estamos e, por pouca presença nossa, acabaram se afastando. Como nosso clero não é tão grande, pedimos ajuda a outras diocese e a Diocese de Ponta Grossa ofereceu um sacerdote para fazer uma missão no Chuí. Também contamos com o apoio das irmãs carlistas”, relatou o bispo.
Nesse sentido, o desafio atual da Diocese de Rio grande é fazer um processo de evangelização com um projeto de iniciação cristã e da recuperação dos católicos. “Vamos atuar primeiro com os nossos, e depois vamos expandir para um bom diálogo inter-religioso e ecumênico”, disse dom Ricardo.
O próximo Meeting Point acontece nesta terça-feira, às 9h, com Dom Mário Antônio, bispo de Boa Vista (RR), sobre a atuação da Igreja no Brasil sobre a situação dos imigrantes venezuelanos.
Informações: CNBB