Beato Padre Donizetti – O Santo de Tambaú

Um santo entre nós

Foto: Comissão Pró-Beatificação de Padre Donizetti/Arquivo pessoal.

Os santos para nossa Igreja são verdadeiros reflexos de amor, da presença de Deus entre nós. Estes homens e mulheres, já na presença do Pai, mantêm conosco laços de amor e união. Quem já teve a oportunidade de viajar para alguns países europeus, em especial para a Itália, pode comprovar esta proximidade de forma ainda mais física. Todos falam orgulhosos: “Esta foi a primeira igreja que São Felipe Neri foi pároco”, “Padre Pio rezava aqui”, “Nesta casa nasceu São Francisco”, “Aqui nesta capela está o corpo de Santo Ambrósio”. Ficamos até pensando: Que riqueza para essas pessoas poder ter tão próximos sinais assim!

 

Agora chegou a nossa vez. A partir deste texto, em uma pequena série mensal publicada no informativo paroquial, convidamos todos a se aprofundarem na história de vida de um santo nosso. Isso mesmo. Que foi e é sinal do amor de Deus em toda a região. Que viu essas montanhas, que espalhou suas palavras proféticas nesses ares e, possivelmente, pisou em algum momento nas terras vermelhas de Santo Antônio de Posse. É o Beato Donizetti Tavares de Lima, ou simplesmente, o Padre Donizetti de Tambaú, que, em 1908, pertencendo ao clero da recém criada Diocese de Campinas, foi nomeado vigário da Paróquia Santa Maria em Jaguary, como era conhecida Jaguariúna/SP.

 

Neste primeiro momento, conheçamos um pouco sobre sua origem e sua vocação. Nascido na pequena cidade de Cássia, em Minas Gerais, no dia 3 de janeiro de 1882, é um dos nove filhos do casal Tristão Tavares de Lima e Francisca Cândida Tavares de Lima. Assim como os irmãos, recebeu nome inspirado em famosos músicos, uma admiração do pai. Na sua vez, o homenageado foi o italiano Gaetano Donizetti. Em 22 de janeiro, foi batizado na Paróquia Santa Rita de Cássia.

 

Com quatro anos, a família se muda para Franca, no interior de São Paulo, onde cursou os anos de estudo do primário e começou a aprender música. Seu dom para a música logo foi incentivado pelo pároco de Franca, que o convida para tocar durante as celebrações da Semana Santa.

 

Falou com seu pai sobre o desejo de entrar no seminário, no qual atuava como organista e professor de música, mas agora com o desejo de uma vida sacerdotal. Apesar da família não passar dificuldades, o pai pede um pouco mais de tempo, para que a situação financeira melhorasse. Tempo depois, com 18 anos, realiza o sonho de iniciar o curso propedêutico na capital São Paulo. Como presente, recebeu da mãe uma imagem de Nossa Senhora Aparecida com um manto branco de seda.

 

Em 12 de julho de 1908, foi ordenado presbítero na cidade de Pouso Alegre (MG). No mesmo dia, fez ao bispo Dom João Batista Côrrea Nery um pedido que marcaria sua vida: o voto de pobreza. Desde então, começou a dormir no chão ou em ripas de madeiras tendo livros como travesseiro. Sua batina, doada e já usada. Compreendia de forma muito íntima que seu verdadeiro tesouro não era possuir ouro nem prata, mas Jesus Cristo (cf. At 3, 6), e que isto significava também encontrá-lo no irmão, em especial naquele mais necessitado. Sim, a verdadeira vocação cristã é sempre dom e compromisso.

 

Padre Donizetti e a devoção mariana

Ter Nossa Senhora como mãe é um dom dado por Deus por meio de seu filho Jesus. Na cruz, deixou-nos Maria como mãe. E como é bom ter uma mãe! Para os brasileiros, em especial, a devoção mariana é fortalecida com o relacionamento tão íntimo que temos com a Aparecida, a santa de negra cor que das águas do Rio Paraíba do Sul inundou de amor e fé todo um país. E não era diferente com o Pe. Donizetti Tavares de Lima, o beato de Tambaú/SP. Diversas passagens de sua vida são permeadas por uma devoção que, segundo ele mesmo, veio tão cedo pelo “leite materno”. Uma verdadeira herança de fé de sua família.

 

Segundo relatos de muitos fiéis, o primeiro fato milagroso que aconteceu tendo Nossa Senhora Aparecida como intercessora aconteceu quando o padre encomendou uma imagem da santa, logo que chegou à Tambaú. Uma multidão foi até à estação ferroviária acolher a Mãe. Chovia muito e os fiéis ficaram preocupados que a água destruísse a imagem nova. A ideia de uma procissão da ferroviária até à Igreja Matriz de Santo Antônio parecia não ser uma boa opção. Mas padre Donizetti insistiu. Queria uma grande festa para a Mãe Aparecida e ordenou que a procissão seguisse. E eis um milagre: por onde as pessoas passavam com a imagem, a chuva não caía e não molhava. Era como se uma grande proteção contra a chuva existisse apenas no caminho dos peregrinos que acolhiam com amor a imagem nova que chegava à cidade.

 

Logo, a fama de santo do sacerdote começou a se espalhar pelas cidades vizinhas e até mesmo as de longe. O padre, contudo, sempre afirmou que não tinha o poder de fazer nada, que era apenas uma ponte entre os fiéis e Nossa Senhora, a que verdadeiramente era responsável por interceder pelas preces a Deus, o única capaz de conceder graças. Padre Donizetti se via apenas como um instrumento para a graça de Deus.

 

O relato mais conhecido dessa devoção e proximidade que o sacerdote alimentava com Maria, porém, é outro. Uma tragédia que se transformou em graça. No dia 11 de outubro de 1929, portanto véspera do dia de Nossa Senhora Aparecida, ele rezava uma missa na capela de São José quando foi avisado que a Matriz de São José ardia em chamas. Um curto-circuito provocou um grande incêndio no prédio.

 

O incêndio destruiu tudo. A estrutura ficou abalada. Com coragem, entrou na matriz para pegar a imagem de Nossa Senhora. Ao entorno, tudo estava destruído e transformado em cinzas. Mas a imagem de Nossa Senhora, que traz Maria em pé e com as mãos em forma de oração, estava intacta. Até mesmo seu manto, branco e de ceda, especialmente colocado para a sua festa no dia seguinte, estava em perfeito estado. A imagem estava ali à sua espera. O padre a pegou com carinho, podemos nós acreditar que incrédulo mas confiante no amor que tudo pode, retirou-a de dentro dos escombros. Um novo milagre. Simples como a devoção, grandiosos e forte como a fé. A imagem tida como milagrosa o acompanhou até o fim da vida.

 

A fama de santidade se espalhava cada vez mais. Em apenas um dia, 200 mil peregrinos foram à Tambaú. Em um semestre, somavam-se mais de três milhões. Era doentes pedindo e agradecendo curas, curiosos, fiéis devotos… Todos queria receber uma bênção. Preocupado, o padre chegou até a escrever para seu bispo dizendo: “Excelência, antes de ouvir dos outros, vim dizer-lhe que muitas pessoas vêm ter comigo porque se espalhou a notícia de que a minha bênção cura ou consola na dor. Rezo sempre a Nossa Senhora Aparecida. Estou consciente de que esta é uma missão que me confiou, para ajudar os necessitados. O que devo fazer?” E a resposta do pastor o encorajou: “Querido Padre, continua a dar a tua bênção, aquela que é da Igreja. Não é um ato de magia, nem é uma invenção tua. Dispense as graças de Nossa Senhora. Vai tranquilo”.

 

Sim, e Padre Donizetti seguiu tranquilo sua missão, sempre com a proteção e intercessão da Mãe Aparecida, que nos mostra e nos acompanha rumo ao coração de seu amado filho Jesus. E como dizem, para quem não tem fé, todas as explicações não são suficientes. Para quem tem fé, nenhuma é preciso.

 

 

Texto: Adilson Jorge.

Compartilhar:

Veja mais

No último domingo, dia 20 de outubro, o bairro Vale Verde, em Amparo, pertencente à Paróquia São José Operário, recebeu uma significativa Manhã Missionária.