AGRADECIMENTO E ESPERANÇA NA MENSAGEM À REDE DE JUSTIÇA E PAZ

O secretário executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), Carlos Alves Moura, enviou na quarta-feira, 20, a última carta circular à Rede Brasileira Justiça e Paz de 2017. O texto, marcado pelo agradecimento pelo serviço e pela esperança no nascimento do Salvador, ressalta a superação das expectativas quanto ao uso deste instrumento de comunicação com os integrantes das Comissões de Justiça e Paz espalhadas pelo Brasil. Por meio dessas cartas, foi possível expressar angústias, expectativas, desafios e sugestões de encaminhamentos.

Carlos Moura agradeceu aos integrantes das comissões justiça e paz, à vida religiosa consagrada e à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que, em 2017, “como discípulos e discípulas do Senhor, colocaram-se a serviço da defesa, promoção e universalização dos direitos humanos, particularmente dos mais frágeis, considerados estorvo do desenvolvimento e da voracidade da ditadura do dinheiro e da idolatria do mercado: indígenas, quilombolas, jovens da periferia, mulheres, presos, trabalhadores e desempregados, negros e negras”.

Após uma análise sobre desafios e contextos de crise por que passa o Brasil, sugere que neste natal “saibamos acalentar a presença do menino em nossas famílias, comunidades e na sociedade brasileira, ultimamente tão brutalizada, mas grávida de sonhos, esperanças e de solidariedade”.

Leia o texto na íntegra:

Circular do Secretário Executivo da CBJP à Rede Brasileira Justiça e Paz

“Não vi a estrela falada
mas vi que Deus era pobre.
Maria estava acordada e estava acordada a noite
e estava acordado, para sempre, o rei Herodes”
(Dom Pedro Casaldáliga)

Em 2017, fiz uso de circulares endereçadas às comissões justiça e paz, integrantes da Rede Brasileira Justiça e Paz, com a intenção de expressar angústias, expectativas, desafios e sugestões de encaminhamentos. Confesso que as respostas superaram muito o inicialmente pretendido.

Com as luzes de 2017 já se apagando e as de 2018 se acendendo, volto a escrever-lhes, motivado pela vivência litúrgica do advento, tempo favorável de nos colocarmos vigilantes, atentos e esperançados pela chegada do mistério da morada de Deus Menino em nosso meio, com as festividades do Natal, período em que o inesperado faz morada em nós, nascido de mulher, na periferia da periferia de Belém.

É tempo de agradecer a cada um e a cada uma dos integrantes de cada comissão justiça e paz, bem como à vida religiosa consagrada, à CNBB, que em 2017, como discípulos e discípulas do Senhor, colocaram-se a serviço da defesa, promoção e universalização dos direitos humanos, particularmente dos mais frágeis, considerados estorvo do desenvolvimento e da voracidade da ditadura do dinheiro e da idolatria do mercado: indígenas, quilombolas, jovens da periferia, mulheres, presos, trabalhadores e desempregados, negros e negras.

É difícil esquecer as mobilizações na defesa da Previdência Pública, tão atacada e responsabilizada pelos propagados desacertos das finanças públicas; o envolvimento nos atos contrários ao desmonte dos direitos do trabalho contidos na reforma trabalhista, que já começam a desvelar as crueldades nela contidas, como na demissão de mais de 1000 professores de uma universidade privada no Estado do Rio de Janeiro.

As reiteradas, e cada vez mais frequentes, ações típicas de estado de exceção, lamentavelmente legitimadas pelo necessário combate à corrupção, contraditoriamente enfraquecido na opinião pública, quando se verifica a ausência de critérios fincados no Estado de Direito e a adoção de práticas de justiçamento.

2018 será um daqueles anos decisivos para o futuro do Brasil. Nele se condensará décadas de qual modelo de nação seremos: uma nação a serviço de toda a coletividade e aberta solidariamente para todas as nações, especialmente da América Latina e África. Ou nos contentaremos com a pilhagem de nossas riquezas naturais, humanas e culturais.

Nesse contexto, surge a “vergonhosa e infame” Medida Provisória 795 que concede privilégios e isenções fiscais às empresas estrangeiras de petróleo na exploração do pré-sal brasileiro, bem como a iniciativa de privatização da Eletrobrás, a maior empresa de energia da América Latina e uma das maiores do mundo.

Apesar de evidências em sentido oposto, constantemente amplificadas pelos grandes meios de comunicação, pesquisas de opinião (Data Folha e OXFAM/Brasil) demonstram que majoritariamente os brasileiros e brasileiras se colocam favoráveis a teses e valores caros à Constituição de 1988 e ao Ensino Social da Igreja, claramente antagônicos à orientação econômica, social e política em curso, denotando que em 2018 esses valores estarão na arena eleitoral e política.

Aliás, muito se fala e já começa ganhar força e forma, a proposta de submeter os retrocessos do governo atual a Referendos Revogatórios. A ideia se orienta como caminho concreto à reconquista de direitos, revertendo o desmonte do próprio país que, se não for anulada, continuará andando na direção de uma sociedade cada vez mais injusta e excludente.

Em 2018, após 2 anos de trauma causado por um cada vez mais contestado impeachment, torna-se imperativo que as diferenças políticas e de projetos de sociedade sejam fruto de rico debate público sem o ardil de levar para os tribunais o que só as urnas poderão acalentar: legitimidade e unidade nacional.

Que neste natal saibamos acalentar a presença do menino em nossas famílias, comunidades e na sociedade brasileira, ultimamente tão brutalizada, mas grávida de sonhos, esperanças e de solidariedade. É tempo de acreditar que: “não haverá mais noite, não precisará mais de luz de lâmpada, nem luz do sol, porque o Senhor Deus vai brilhar sobre eles, e eles reinarão por toda a eternidade!” (Ap 22, 5).

Brasília, 20 de Dezembro de 2017

Carlos Moura
Secretário Executivo
Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB

Informações: CNBB

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